26.5.09

Outros ecos

Abaixo, seguem as respostas dos vencedores do desafio: O que é ciência ?
1º O que é ciência?

Ciência é a oficina do desassossego1. Eu explico: a sobrevivência da espécie humana é fruto da curiosidade e do desassossego. Nossa espécie sobreviveu muito tempo sem a ciência, mas não sem o desassossego. O desassossego é o motriz que nos leva a tentar entender a natureza e suas regras, nos induz a conjecturar e teorizar sobre as diferentes formas que percebemos a vida. Seja para o bem ou para o mal, afinal, somos humanos.
Ciência é o desassossego aliado à formulação da hipótese, a experimentação, a controles profiláticos de engodos, a coleta de dados, a alegria da descoberta, a dor das frustrações, ao labor da interpretação que finda na quimera de crítica-medo-coragem, tão peculiar aos cientistas, novos ou velhos no momento de divulgar suas observações.
A ciência prolongou a expectativa e qualidade de vida da espécie humana, agora temos tempo de sobra para continuarmos “desassossegadamente” a aproveitar a ciência e seu método na aventura de entender e melhorar universo em que vivemos, afinal, somos humanos.

1. O uso da palavra desassossego é culpa da obra essencial de Fernando Pessoa - Livro Do Desassossego. Editora. Assírio & Alvin, Lisboa. 2006. Renato Fernandes de Paulo

Doutorando do Lab. de Química Fisiológica da Contração Muscular – IbqM
2º O que é Ciência?

A Ciência deveria ser entendida como a arte de se buscar o entendimento da natureza e do cosmos; o caminho pelo qual o ser humano busca as respostas mais básicas, porém mais cruciais de sua existência, as quais vem sendo feitas desde o início dos tempos, como: de onde vim? O que sou? Para onde vou?

Mas por quê considerar a Ciência uma arte? Deve-se ter em mente que é preciso uma grande dose de imaginação para idealizar, por exemplo, um veículo que anda por debaixo d’água ou mesmo no espaço. E muito antes da invenção do submarino ou da nave espacial, Julio Verne idealizou estes tipos de veículos em suas estórias fantásticas, equipamentos que a Ciência só pôde tornar realidade muitos e muitos anos depois. Nessa mesma linha de raciocínio, a concepção de uma teoria ou hipótese científica requer não só experimentação exaustiva, mas muita criatividade por parte do cientista para vislumbrar o que não se pode ver ou tocar, para conjeturar sobre o novo e para conseguir enxergar o mundo através de um novo olhar.

E é a busca incessante pelo entendimento dessa enorme complexidade que é o mundo em que vivemos, bem como o cosmos, que faz com que o homem se eleve a um patamar superior ao dos demais animais, por ser a única espécie capaz de se ater a tais questionamentos. Indagações essas que, inicialmente, tinham profunda relação com o domínio espiritual, mas que agora são explicadas de maneira dissociada de dogmas ou crenças religiosos. Talvez seja exatamente por este viés menos atrelado à religião que faz com que muitos leigos até acreditem que o cientista tente brincar de ser Deus. Contudo, se essas mesmas pessoas compreendessem o que de fato é a Ciência, é possível que elas pudessem encará-la de outra maneira: como a ferramenta que o homem concebeu para entender a obra Dele.

Raphael do Carmo Valente, PhD.
Lab. de Imunologia Tumoral
IBqM

2º (o que é ciência?)

Quando eu tinha ali pelos meus dez anos, lembro de estar em uma fazenda com minha família quando meu irmão, que devia ter uns seis ou sete, veio falar comigo, puxando a minha camisa. “Ô, olha só o que eu descobri”. E aí levou eu e minha mãe até os fundos de um galpão, de onde um fio de água meio malcheiroso escorria. Orgulhoso, ele disse: “essa é a água do banheiro”. E pra demonstrar, foi até o banheiro do galpão, jogou um pedaço de papel higiênico no vaso sanitário, deu a descarga, voltou para os fundos e mostrou uns pedaços de papel saindo com a água.
Minha mãe imediatamente entrou no modo “orgulho materno” e saiu pelos quatro cantos da fazenda comentando sobre a descoberta científica do meu irmão. Usando essa palavra mesmo, “científica”. E por que não, afinal? Ele indubitavelmente tinha usado o que normalmente se entende por método científico: observação da água saindo do galpão e do seu cheiro, hipótese de que ela viesse do banheiro, planejamento do experimento utilizando o papel higiênico e teste experimental da sua hipótese.
Seria o que o meu irmão tinha feito de fato ciência? Tenho a impressão de que muita gente diria que sim. E inclusive de que vários cientistas estariam de acordo com a idéia. Até porque a noção do método científico como algo natural e quase inerente à experimentação humana lhes soaria prazerosa, como uma confirmação tácita da “naturalidade” da sua própria maneira de trabalhar. Mas será que esticar a definição de ciência pra incluir o meu irmão de seis anos não levaria a algumas contradições?
Consideremos um bebê que chora pra chamar a atenção da mãe, por exemplo. Certamente ele deve ter chorado pela primeira vez por puro instinto, em resposta a uma agrura qualquer de sua condição de bebê. E certamente a mãe deve ter acudido correndo a consolá-lo nessa primeira vez. Com o tempo, é praticamente certo que a partir dessa observação inicial e das que se seguirão, o bebê antes mesmo de aprender a falar será capaz de montar um modelo mental que associa o choro com a vinda da mãe. E é quase certo que um dia, mesmo que a dor ou a fome não seja tão forte, ele haverá de testá-lo forçando o choro e constatando que a mãe vem. Hipótese comprovada. Mas será que o que o bebê faz é ciência?
E levando a definição um pouco mais longe, se ciência é construir modelos a partir da observação e testá-los experimentando, não estaria o nosso cérebro fazendo ciência o tempo todo sem que sequer nos apercebamos? Afinal, toda a informação que nos chega do mundo a qualquer dado momento, em última análise, são um punhado de ondas luminosas, algumas vibrações sonoras, o cheiro de algumas partículas suspensas no ar e a pressão do que está em contato com o nosso corpo. E a partir dessa informação sensorial bruta e limitada, somos capazes de construir o mundo em que vivemos, com coisas, pessoas, terra e céu. Que no fim das contas é apenas um modelo teórico pra explicar os dados sensoriais que nos chegam: mas um que passamos a vida inteira a construir e testar ininterruptamente em nossa consciência.
Então se a ciência está no método, tenho a impressão de que eu seria forçado a concluir que todos nós fazemos ciência o tempo inteiro, sem cessar. O que é um conceito tão fascinante quanto operacionalmente inútil: afinal, se tudo que o ser humano faz é ciência, a palavra acaba perdendo o seu valor de definir alguma coisa, e se torna um termo vazio.
Assim, talvez um conceito de ciência mais operacional envolva ir além do método. Talvez ciência envolva aplicar o raciocínio científico para questões compartilhadas, de maneira a produzir conhecimento cuja relevância vá além de nossas próprias pessoas. E provavelmente envolva comunicar de alguma maneira o que se descobre: o que o meu irmão já fazia, diga-se de passagem, puxando a minha camisa e dizendo “olha só”.
De fato, é provável que acreditar na necessidade de questões compartilhadas construa um conceito de ciência mais útil do que olhar apenas para o método. Ainda assim, no entanto, eu não chego a me convencer totalmente que ele me agrade mais do que o conceito que incluía o meu irmão, o bebê, e o cérebro em tempo integral. Porque, útil ou não, é inegável que existe algo de sedutor em pensar que fazer ciência é simplesmente uma conseqüência inevitável de estar vivo. E que não existe nada mais inerentemente humano do que observar o mundo e encontrar padrões, explicações e modelos que dêem sentido pra existência, como fazemos desde o berço.
E se os que se dizem cientistas fazem algo mais do que isso, é meramente porque formalizam esse trabalho, abordando questões coletivas e tornando seus modelos mais universais e acessíveis aos outros. Mas no fundo, em termos de método, ser cientista não é muito mais do que fazer o que a gente sempre fez desde criança, só que como trabalho. Talvez por isso é que pareça tão bonito.

Olavo B. Amaral IBqM

3º O que é ciência?
A ciência é a ânsia incansável e infinita pelo conhecimento, fazendo uso da razão e de metodologias experimentais para encontrar respostas infindáveis. É uma forma que encontramos para entendermos o universo ao qual vivemos, porém, como disse Einstein, só conseguimos enxergar o rabo do leão.

É o amor incondicional pelo desconhecido. É o prazer que alimenta a mente. É o calor que nos conforta nos dias frios e tempestuosos. É olhar o mundo com os olhos de criança, sendo a mais importante pergunta o por quê.

É o impossível se tornando possível aos olhos da física. É a biologia sendo vista como uma cura para doenças que afetam os seres vivos. É a química desvendando as propriedades e as estruturas das moléculas. É a matemática, junto com as suas fórmulas e equações, favorecendo o avanço tecnológico científico.

Ciência é razão, é vida e é conhecimento.

Gislaine Curty Ferreira
Programa Jovens Talentos
Lab. de Bioenergética
IBqM




Elisangela da Silva Melo UFRJ - Instituto de Bioquimica Médica Prédio do CCS - Bloco E - Sala 38 Cidade Universitaria - Ilha do Fundão CEP: 21.941-590 - Rio de Janeiro -RJ Telefax: 21 2270-1635