9.8.08

como substâncias.

As coisas

As coisas têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, du-ração, densidade, cheiro, valor, consistência, pro-fundi-dade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, des-tino, idade, sentido. As coisas não têm paz.

Arnaldo Antunes

simples...

Simples

É simples
Como o giro da terra em torno do eixo
É simples
Como fim de filme sem desfecho
É simples
Como a confecção de um míssil
É simples
Como se livrar de um velho vício
É simples
Como escrever um livro "best-seller"
É simples
Como não querer saber mais dela
É simples
Como destruir fotografias
É simples
Esquecer o amor que foi um dia

Elementar, meu caro amor
Amar é simples...

É simples
Como ler ulisses todo de uma vez
É simples
Como saber falar bom português
É simples
Fazer gols iguais aos de pelé
É simples
Não querer também quem não te quer (quando se quer)
É simples
Esconder o choro todo na garganta
É simples
Fingir que tristeza não é tanta
É simples
Esquecer tudo que foi da gente
É simples
Simplesmente ser indiferente

Jair de Oliveira

facilmente...

Coisas Fáceis

Coisas fáceis,fazer um agrado
Coisas fáceis, abrir um sorriso
Coisas fáceis, estender os braços
Coisas fáceis, agir com juízo
Coisas fáceis, mostrar o caminho
Coisas fáceis, dizer a verdade
Coisas fáceis, cuidar com carinho
Coisas fáceis, viver com vontade

São coisas pra se fazer
Sem esperar recompensa
Coisas pra se querer
Coisas tão simples
E tão difíceis de esquecer
Um abraço, um sorriso, um aceno
Coisas fáceis
Gestos tão pequenos
Coisas fáceis

Jair de Oliveira

coisadas...

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

sobre coisas...

Os Ombros Suportam O Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Carlos Drummond de Andrade

para coisas...

Ao Braço do Mesmo Menino Jesus Quando Aparece

O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.

O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.


Gregório de Matos

construindo coisas...

Buscando a Cristo

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.

Gregório de Matos

coisas e mais coisas...

Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:

Goza, goza, da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.

Oh não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

Gregório de Matos

Mais coisas...

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.


Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Matos

há coisas...

O lamento das coisas

Triste, a escutar, pancada por pancada,
A sucessividade dos segundos,
Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos,
O choro da Energia abandonada!

É a dor da Força desaproveitada
— O cantochão dos dínamos profundos,
Que, podendo mover milhões de mundos,
jazem ainda na estática do Nada!

É o soluço da forma ainda imprecisa...
Da transcendência que se não realiza...
Da luz que não chegou a ser lampejo...

E é em suma, o subconsciente ai formidando
Da Natureza que parou, chorando,
No rudimentarismo do Desejo!

Augusto dos Anjos

Depois do fim...

O fim das coisas

Pode o homem bruto, adstricto à ciência grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!

Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
Sôfrego, o solo sáxeo; e, na ânsia ardente
De perscrutar o íntimo do orbe, invente
A limpada aflogística de Davy!

Em vão! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio ...

E quando, ao cabo do último milênio,
A humanidade vai pesar seu gênio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!

Augusto dos Anjos


Inauguro neste instante o tempo de poesia; o tempo vago ao encontro das emoções puramente ingênuas. Todos são poetas; cada um com o seu peculiar estilo. É a exclamação do ego, do super-ego completamente extasiado de se entregar sem reservas. Abaixem as armas; estendem os braços abertos; peguem lápis e papel e deixem as idéias livres e apaixonadas; livremente apaixonadas.

Por fora, só verniz

Toda e qualquer cidade, estado ou país, é constituída por meio do Estado de direito democrático, quando for assim organizado sob o molde federativo ou unitarista, desde que tenha plena e ampla representatividade política. As leis, normas de condutas e a moral, por exemplo, são, aos poucos, acrescidas, revistas e respeitadas conforme for; além do grau de instrução social, o compromisso ético de cada cidadão. Ética é formada de maneira socio-cultural, portanto, lenta. Basicamente passa de geração-a-geração através do filtro enviesado da consciência humana - um constructo feito de vivência, de erudição e de genes favorecidos ao longo do tempo.
Da telinha para o já inexistente telhado de vidro de nossa representatividade, o deputado Hugo Leal vem acompanhado da Lei de deixar água na boca - a Lei 11.705/08, que tem por objetivo diminuir os acidentes provocados pela imprudência de dirigir depois de uns goles e outros contendo etanol. Pressão total é o lema dos órgãos opressores e ostensivos contra os citadinos de bem. Multa pesada, apreensão do veículo e perda da licença de dirigir. Pronto. Com essa forma extra de aumentar os salários pífios de nossos servidores públicos da Segurança, a meta há de ser alcançada. No entanto, hoje, num telejornal de alta audiência, expõe uma pessoa, a qual detém o título de pesquisadora, para lamentar-se da diminuição da queda de tais acidentes. Ora, não é necessário de metade dos títulos desse ser para podermos concluir que acidentes acontecem. São eventos, por definição, fortuitos e raros. Além de, também, não ser tão difícil de perceber em que se tratando de acidentes automobilísticos, ingesta de bebidas alcoólicas não é a única causa. Acidentes vão acontecer e, com isso, a avaliação da eficácia da adesão à lei é, de fato, mais complexa.
Será, que esse imediatismo baseado em causalidades diretas e rasas está associado a interesses políticos-eleitoreiros? Eleições a vista, oposição visando ao poder, situação querendo mais quatro anos, interesses e vontades confundindo-se e misturando-se; revelações escandalosas, propaganda legítima, ordenações de fatos, tudo, no final, para ajudar ao eleitor fazer a sua escolha. Se é certa, só o tempo dirá.

6.8.08

O Guaxinim no Éden

Guaxinim passou por aqui. Era um rato do tamanho de um cachorro. Era esperto feito os felinos. Agora, está morto. Extinto. Só existia um exemplar desde algumas décadas. Dizem que consegue viver mais que um cágado. Nossa! Foi como um sorrateiro; um forasteiro sem pai e sem mãe. Eis que surge a lenda urbana mais silvícola do que curupira; mais urbana do que homem-do-saco - Ele é o Guaxinim-Sorrateiro.
Uns vão jurar que viram. Outros afirmarem que nunca existiu. Porém, quem viu,viu; quem não teve a sorte, ficará com um eterno vazio de substância vital. As estórias são inúmeras acerca de um animal grotescamente garboso. Único. Dava cambalhota para trás, fazia enes peripécias, grunhia feito gente e até pensava! Pensava e pedia votos com a pata apontada na direção da assembléia. Era honesto nas suas mentiras. Roubava escondido, mas não fazia questão de eliminar as evidências, devido à impunidade das lendas. Quem iria desconfiar de um Guaxinim? Bizarramente elegante. Andava a passos curtos para ser discreto e com mãos abertas para apertarem as dos amigos - Sempre em campanha eleitoral.
Guaxinim era um só. Era o exemplo no grupo perdido na inocência da ignorância. Ganhava todos os pleitos. Maravilha, dizia ele! Quanto menos, melhor. Quanto mais luz, mais sombras. Sabia o que dizia. Desejava a manuteção do curral humano sob a égide da força dos contrastes; para um ganhar, o outro deve perder. Darwinismo social era a sua doutrina. E ele reinava, sozinho, sorrateiramente.
Agora, depois de morto e extinta a espécie, a lenda torna-se um mito. Imponente. Todos querem a sua lei. Todos querem o seu comando, com a humanidade vivendo em encontros e desencontros, numa falta total de sintonia com o mundo mais justo, mais digno e mais humano - a crença do invisível.

Um novo tempo....


Tendo em vista a diversidade de temas abordados em NOSSO BLOG... Isso mesmo ele ainda é nosso, mesmo que a figurinha mais presente nesse folhetim tenha sido o ilustríssimo Wilen que tem abordado com uma maestria ímpar os mais diversos temas.
Partindo disso achei por bem me ater àqueles temas que transitam entre o mito e a realidade e que optaram por denominar cultura popular.
Para dar inicio a essa nossa nova fase, adentrando por esse mundo outrora pouco falado e discutido nesse canal, iremos conversar, discutir e esclarecer sobre um tema que há muito vem chamando a atenção de muitos dos amigos leitores, conhecidos, amigos, colegas, familiares e tantos outros desta terra ou mesmo de terras alem mar.
Mas qual seria o tal tema, a dar início a essa nova fase? Ninguém ou nada? Mais ou menos que ele:

O Guaxinim Sorrateiro.


Para iniciarmos a sessão queremos interagir com nossos internautas (como diria qualquer locutores da Globo) e ver o que pensam sobre o tema. Para poder ajudá-los a ao menos vislumbrar parte do DOGMA que gira em torno do tal guaxinim, vamos discorrer um pouco sobre o mesmo.

A história do Guaxinim Sorrateiro nos remete aos primórdios da humanidade e vem resistindo aos intemperismos da vida, sendo transmitida de geração a geração. Essa cultura milenar tem sofrido adaptações, modificações mas mantendo sua essência, suas peculiaridades e principalmente sua EFICÁCIA... Dessa pequena descrição nos surgem inúmeras duvidas dentre as quais: o Guaxinim Sorrateiro - é um mito? Uma lenda urbana?
Eu já fui um Guaxinim? Esse é o novo brinquedo da Grow? Nossa, além de Guaxinim é sorrateiro??? ou apenas um estilo de vida...?

A partir do exposto, esperamos contribuições pra desvendar mais esse mistério que envolve os seres humanos

Guaxinim sorrateiro way's of life...?(to be continue...)


4.8.08

Tão longe de chegar e nem perto de algum lugar

Noite fria e sem qualquer detalhe especial. Chegada a um dos mais importante hospitais de emergência do Rio de Janeiro, onde são atendidos muitos daqueles que não podem ter outra opção. Saúde pública e de qualidade, eqüânime e universal a todos os cidadãos brasileiros, não passa de uma tão gelada madrugada de inverno. É fria. É distante dos ideais aspirativos constitucionais.
Logo na entrada, uma mudança: instalações novas, paredes pintadas e um esboço de organização. Que maravilha! A população agradece tanta dedicação e apoio às mais necessitados. De um lado, os famigerados carentes de serviços públicos; do outro, um exército de estudantes pronto para iniciarem a luta por experiência e interesses individuais e nada mais que escape do diâmetro da cicatriz umbilical. Os servidores públicos, empossados com dever e com sonhos, acordam cedo em suas agradáveis casas no seio familiar. Afinal, sonhar só se for dormindo embaixo de um quentinho edredrom. Enfim, um encontro de filhos órfãos de pais solteiros.
O que poderia ser diferente? Qual seria a melhor alternativa? Há muitas outras perguntas e propostas para tentar solucionar essa dificuldade de gerir questões de âmbito público e almejos pessoais. No que concerne a educação continuada de novos profissionais, a solução deverá passar pela séria competência de suas escolas de Ensino Superior junto ao Ministério da Educação. Forma-se na escola. Já os interesses concernentes à prestação de serviço, estará no compromisso tanto engajado quanto motivado daqueles que têm a imcumbência de zelar pelo bom funcionamento da máquina administrativa, que possui mecanismos logicamente engendrados. Como num veículo, em que todos os componentes ali presentes têm a sua função determinada, que, quando motivada, pertence adequadamente ao seu universo dinâmico natural. Cada membro ou instância deve sempre ser lembrados e tecnicamente geridos para garantir o dinamismo natural - paciente, atendimento, recuperação, pesquisa e arquivo.
Nunca se deve esquecer do simples, nem fazer dele o único caminho; no entanto, sempre ter em mente as finalidades do bem político e público alinhadas a um príncipio coerente de realização. Esse relato deveria ser um conto, singularíssimo em detalhes românticos, mas acabou o sentido fazendo-se crítico e a emoção entorpecida pelo frio da madrugada; em uma ferrari puxada por cavalos, longe de chegar a algum lugar perdido neste sonho.