25.7.08

“Se pensarmos que as pessoas buscam a felicidade ou esperam que em si mesmas recaia tanta alegria quanto se pode imaginar existir, haverá coisa mais brega e cafona? Hoje valorizamos a liberdade e a integridade da privacidade, mas, quase todos, em alguma instância da vida, já retomaram primitivos conceitos de” metades de laranjas “e” almas gêmeas “. O belo está em, acima de tudo, procurarmos em nós mesmos a felicidade e nisso consiste a maior cafonice moderna. O belo e o cafona andam de mãos dadas porque o que se torna belo passa pelos mais entregues momentos de cafonice. Ninguém aparece do nada com plaquinhas dizendo: 'Pessoa sem uso'. Todos usados e bem reciclados, seguimos o caminho da vida com desusos sem gasto ou com algum que faz de nós um pouco mais ou menos interessantes aos olhos dos pares e parceiros que buscamos. Difícil uma história e, principalmente, uma história de amor sem o brega da entrega, dos sussurros melosos e palavras encantadas. Já dizia o poeta que "Todas as cartas de amor são ridículas..." São... por isso são de amor. Nelas perdemos os escrúpulos e as eiras e beiras que nos mantêm seres de força aparente e que, de repente, se tornam meras partes do todo do amor. Esta última frase, o cafona em si? E há na entrega algo mais belo que deixar que seu coração seja por outro acompanhado? Se você acredita que houve muito uso do seu, não se perturbe. Há sempre alguém, como você, que não é zero quilômetro, mas está em bom estado de conservação. O belo pode ser o encontro. O cafona, a beleza dele." --

Ricardo Sant'Anna de Oliveira
Mestrando - Instituto de Bioquímica Médica Universidade Federal do Rio de Janeiro

Nem tudo é o que parece

O "belo" e o "cafona" se relacionam? Por quê?

Começar pelas definições referenciais parece-me bastante adequado; porém, sem analisar as concepções antropólogicas tornar-se-á insuficiente, uma vez que a visão do homem, a disponibilidade das coisas e sua conjuntura diante delas fazem parte, de forma perene, da construção de entendimento. É melhor seguir um outro modelo de resposta, pois esse é demais denso.
Segundo o dicionário enciclopédico Coimbra de Augusto Miranda, “belo” é um adjetivo pertencente ao campo semântico de formoso ou de gentil; já “cafona”, vai desde indivíduo desajeitado, com registro de expressões mais antigas como labrego, passando por inculto até chegar ao grosseiro. Circularmente definidos – conceitos à base de sinonímia.
Passeia-se pelo tempo das Eras e se encontram muitas das tentativas de conceituar os termos e de compreender a sua significância para o ego de cada um. Notáveis pensadores arriscaram esse entrave: Kant (Das Schöne), Platão (kalos em o Hípias Maior), Sócrates em diálogo com Agatão e muitos outros anônimos esmeraram-se para exprimir o que vêem de belo com os seus olhos. E, numa rápida reflexão, pergunta-se: E os cachorros? Ou gatos? Entendem o belo e o cafona?
Beleza e nem seu contraponto restringem-se à humanidade. Basta fitarmos qualquer vivente ao lado, para perceber que, de uma forma ou de outra, eles buscam, escolhem. Por condicionamento? Por acaso? Não se sabe; no entanto, entre tantas opções, nem tudo agrada aos olhos. Uns atraem. Outros repelem. Natural.
Para alguns, a beleza é resultado de emoções, de sentimentos pessoais nascidos ou adquiridos durante a existência; há aqueles que tentam exprimir a sua significância segundo a metodologia cientíifca. Recorrem-se à forma geométrica, à simetria, à medidas precisas de versos ou rimas, à lógica e aos raciocínios cognitivos de indução, dedução ou dialética. Apelam-se até a ritos e a comportamentos sociais e religiosos de vida passada; uso de entorpecentes ou aceitação passiva dos mandamentos divinos. Cada ponto tem a sua vista. Cada lugar, seu ponto-de-vista. Nada é igual. Nem a tangente passa tão perto como se supunha, pois ainda tem a assíndota dos fatos e das versões. Um círculo é uma elipse de excentricidade zero; a reta pode ser um círculo de raio infinito. Que tal o feio belamente cafona; ou o bonito cafonamente diferente? Nem mesmo a finitude da variabilidade das quatro letrinhas da vida é capaz ainda de enrijecer a percepção dos gostos pessoais. O que é bonito para mim, poderá não ser para você; o que é cafona, nem sempre vai ser.

20.7.08

Não deixe de viver para sonhar

Bom dia, Pedras!

Há pouco acordei. Havia uma sombra e uma luz. Tudo era assim. De repente, a sombra dominou o cenário como a água percola o solo; visto que a menor resistência encontrava-se no mundo subterrâneo.

Uma confissão: uma senhora, mãe de duas filhas - uma de nove e outra de sete anos - parada, numa calçada, pedia carona. De vida fácil, como dizem. Tinha apenas um propósito em mente - queria usar "crack". Água percolando saídas ainda mais fundas. Canibalismo eburnificado.

Que mundo é esse! Mãe, drogada e prostituída. Ser santificado e profano ao mesmo tempo. Quando o fraco vê a saída, entrega-se; se é forte, procura a melhor. Toda droga vem para solucionar de maneira simples os problemas; vem aumentar o moral; vem pôr no status quo almejado; vem libertar os sentidos e os sentimentos mais recônditos, a fim de que, pela evasão da realidade, possa viver como num sonho.

E para todos os sonhos; um dia, acabam. Para viver, viva; caso o contrário, boa noite!