22.12.08

Ressignificação

Há um aperto, força constrictora de amargura

que ninguém sabe de onde vem

e nem como surge

uma força muda, sem igual intensidade

com choros, com sofrimentos

singulares



a tal força torce, retorce por dentro

rangendo dentes, sardonicamente,

impura de emoções menores, baixa

aos nossos desafetos

21.12.08

Aos vencedores, os sapatos.

Num rápido e desprovido posicionamento acerca dos sapatos em direção a um chefe-de-estado, poderá corresponder legitimamente esse ato heróico à justiça. Porém, há de ter cuidado com as consequências. Se a revolta e a manifestação contra o subjugo imperialista, conforme atestam, foram traduzidas de forma violenta, lançando um objeto, com intuito de acertar, ao desafeto; o ato nada mais foi que o exemplo ratificado da vingança - sentimento até espontâneo e legítimo. Ora, pagar, com a mesma moeda o preço alto da dominação, é dar um tiro no próprio pé, já que mostra a todos o despreparo de se tratar assuntos de maneira politicamente correta, democrática. Numa vez, acerta-se o sapato; na outra, como não aceitar o genocídio dos homens-bomba? Tudo pela causa? Pelas mortes de inocentes? Pelos choros dos órfãos? A arma dos fortes é a mente perspicaz.

A simbologia de um sapato

Por Lejeune Mirhan

Al Zaide é jovem mesmo. Tem apenas 29 anos. Foi, ainda sob o governo de Saddam Hussein, presidente de uma entidade estudantil. Segundo a emissora Al Jazeera, é membro do partido Comunista Iraquiano. Tem muitos irmãos e alguns deles mortos em combate na resistência contra a ocupação do Iraque por tropas estrangeiras desde 2003. Zaide é jornalista da emissora de TV Al Baghdadiya (cuja central fica no Cairo). Todas as reportagens da TV que ele faz na cidade de Bagdá ele conclui, dizendo, "da Bagdá ocupada". A própria emissora que o emprega exigiu a sua imediata libertação, assim como o Sindicato dos Jornalistas do Iraque.

Al Zaide virou instantaneamente um herói nacional. E usou a sua arma mais potente, tanto física como simbólica: seus sapatos de sola de borracha pesados. Foi ficando cada vez mais irritado com a entrevista coletiva que Bush vinha dando, com suas mentiras habituais, ao lado do primeiro Ministro fantoche do Iraque, Nuri Al Maliki. Num determinado momento, decidiu arremessar os seus dois sapatos contra Bush. A catatonia dos presentes e mesmo da segurança presidencial foi tamanha, que ele conseguiu inclusive tempo para atirar o segundo sapato.

A frase que ele proferiu, gravada ao vivo por todas as emissoras presentes foi: "É o seu beijo de despedida do povo iraquiano, seu cachorro. Isso é pelas viúvas, órfãos e pelos que foram mortos no Iraque". E não precisava dizer mais nada. Al Zaide mostrava-se ao mundo como o vingador dos mais de 200 mil iraquianos mortos, representava o sentimento de uma nação destruída, desmontada, aviltada, vendida, entregue à sanha imperialista e com quase toda a sua infra-estrutura
destruída e vendida ao setor privado (doadas, na verdade).

Sua fama foi instantânea. Foi saudado no mundo inteiro. Passeatas saíram às ruas para exigir a sua imediata libertação. Circulou a informação de que um
empresário saudita estaria oferecendo dez milhões de dólares por um dos sapatos que for am arremessados contra Bush. A foto de Al Zaide não saia de todas as TVs árabes e os jornais americanos publicaram o sapato "voador" passando rente à cabeça de Bush. Claro, os americanos procuraram minimizar o fato, dizendo que o mesmo não tinha importância alguma e que o jornalista não agiu em nome de nenhuma organização e não expressava a vontade do povo. Pura balela. Só se falava do ato de bravura praticado por um árabe contra o chefe do império mais odiado da história.

Os policiais que o prenderam, o espancaram brutalmente. Seu irmão, Maitham Al Zaide, afirma que diversas de suas costelas foram quebradas e seu olho foi atingido por coronhadas de fuzil. Continua preso sem que nenhuma acusação lhe tenha sido feita e que nenhum comunicado tivesse sido enviado formalmente à justiça por sua detenção. Fala-se que poderia pegar de sete até quinze anos de cadeia por ter tentado agredir chefe de estado estrangeiro em visita ao Iraque.

Imediatamente, uma rede de advogados formou-se para defendê-lo e exigir a sua libertação. A imprensa noticiou mais de cem advogados dispostos a prestar seus serviços gratuitamente para que ele possa ser libertado. O chefe da defesa de Saddam Hussein, Dr. Jalil Al Duleimi, será o provável defensor central de Al Zaide. Ainda continua sem nenhum contato tanto com seus familiares, como amigos e advogados, num claro desrespeito às tais normas mínimas de direitos humanos que os Estados Unidos tanto, e hipocritamente, pregam pelo mundo afora sem respeitá-las em lugar nenhum onde têm hegemonia.

* Artigo originalmente publicado no site http://www.vermelho.org.br/. Clique aqui e leia na íntegra o texto, incluindo a segunda parte, A simbologia do sapato


Lejeune Mirhan, sociólogo da Fundação Unesp, arabista e professor. Presidente do Sindicato dos Sociólogos, membro da Academia de Altos Estudos Ibero-árabe de Lisboa e da International Sociological Association.

18.12.08

Horas atrasadas

Não é só impressão; muito menos, relativo. O tempo mudou. Se algum de nossos avós já nos disse que o tempo está custando a passar; mas uma vez os cabelos brancos e as dezenas de primaveras têm razão.

Novos tempos; tempos modernos. O momento, mais do que nunca, é aproveitar as circunstâncias de maior satisfação. O tempo, deleite-se.

Bom proveito!



Qui, 18 Dez, 09h28



Londres, 18 dez (EFE).- O último minuto de 2008 terá 61 segundos para corrigir uma pequena anomalia entre os relógios atômicos e o tempo astronômico, baseado na rotação da Terra. Essa intervenção já foi feita 23 vezes, em intervalos que variaram de seis meses a sete anos. O último segundo extra foi adicionado em 31 de dezembro de 2005 -- três anos atrás.

Tudo surgiu quando a Terra passou a fazer o movimento de rotação mais lentamente. Com isto, o dia passou a ter um tempo maior. E os segundos, baseados nas 24 horas do dia perdeu a medida. Portanto, agora os segundos passam a ser contados de acordo com a velocidade de rotação do planeta.


Os segundos intercalares são usados para manter alinhado o Tempo Universal Coordenado (UTC) com as escalares astronômicas variáveis GMT e Hora Universal (UCI).Entretanto, a União Internacional de Telecomunicações propôs abolir estes segundos intercalares e acrescentar em troca uma hora a cada 600 anos aproximadamente, informa o semanário "New Scientist".

Isto teria repercussões importantes para o Reino Unido, pois a hora referida ao meridiano de Greenwich (GMT) perderia seu atual status internacional como a região na qual a hora local coincide com a hora universal por meio da qual se acertam todos os relógios.

Esta zona de hora ou tempo universal iria se deslocando para o leste em direção a Paris durante centenas de anos antes de voltar outra vez para Greenwich, localidade próxima a Londres.A mudança proposta significaria também que, pela primeira vez, a hora oficial não estaria vinculada à rotação astronômica da Terra.

Em vez de segundos, minutos e horas serem reguladas pelo tempo de rotação da Terra, seriam medidos exclusivamente pelas oscilações de átomos de césio.

"Esta mudança teria profundas implicações culturais", afirma Robert Massey, da Royal Astronomical Society.Também teria implicações para os astrônomos, que teriam que modificar o software operacional de seus telescópios.

http://br.noticias.yahoo.com/s/18122008/40/saude-ultimo-minuto-2008-tera-61.html

16.12.08

Aconteceu...

Sutilezas essenciais


Chove. A alguns metros de um novo mundo, aproximam-se dedos e chapéus. Já marcavam mais de dez horas da manhã de terça-feira, quando um jovem esguio foi a um espetáculo. Peles oleosas, peles secas, com ou sem pêlos, e muitas outras formas volumétricas marcavam o ambiente. Um som forte, longe ou molhado perfazia o cenário, que, ao mesmo tempo, era de muito brilho e de emoções. Aplausos. Silêncio das descrições. Descendo as escadas, nenhum sentido fazia sentido. Pés em todas as direções e o caminho sendo feito por um compasso firme, com tropeços e enganos.

Pé ante pé. Os dedos tocam a parede: imediatamente, o corpo é transpassado pelos centímetros de concreto até a Ilha de Manhattan. Sobe ou desce? Up or down? O Brasil continuava ali, mas os dedos guiavam para longe. Tal qual a força de um pensamento, a vontade de tempos idos movia os quirodáctilos para o inusitado desconhecido. Nem a Física supunha essa bizarra possiblidade de um corpo ocupar dois espaços tão distintos;
muito menos permite a máxima de dois corpos ocuparem o mesmo espaço. A aldeia onde moro é mais universal que as leis da gravitação; a escrita, nem tanto.

Passados trinta segundos, a Terra gira e o suporte das falanges metacarpianas retorna ao ponto de partida, com a porta do elevador aberta, com volumes e a falta de volumes habituais à sua vida em destaque. O que mais importa é a diferença - seja diferente.

12.12.08

Aqui jaz.

Choro amargo. Tristemente de mal gosto. Hoje, depois de lágrimas e fatos, um júri absolveu o acusado de assassinar uma criança, sob a justificativa de ter se confundido. Ora, errar é humano. Mais errar muito, desconfia-se. Troca de tiro sem tiro de volta? Bandidos que param o veículo e nada fazem para reagir ou fugir? Policial carioca sem a malandragem peculiar do local? Crime sem castigo. Um soldado, servidor público do Estado do Rio de Janeiro, provavelmente, carioca, ciente e acostumado com a cultura e com as ruas e as vielas fluminenses, convenceu que o que passou foi um filme de ação. A fita de câmera de um edifício próximo, usada como prova no julgamente, mostra , fidedignamente, apenas um veículo sendo alvejado a tiros por policiais investidos do poder público para proteger os seus concidadãos. Não. Foi um erro. Não. Foi legítima defesa. Não. São os ócios (ou ossos?) do ofício. Enfim, mais um número em estatísticas de teóricos sobre segurança pública, em seus escritórios, com olhares virtuais. Outro dia, foi um colega de corporação que, para defender seu emprego de segurança privado, matou um jovem envolvido com briga numa boate também do Rio de Janeiro. Um funcionário exemplar não pode ser punido. O que seria uma briga com socos e hematomas, tornou-se um prêmio de condecoração para o empregado do mês.
Quem pode matar? Seguranças ou policiais? Esse ou aquele? Outro ou um?
Quem pode morrer?
A justiça cega, velha e com a esperança.
11/12/08 - 18h39 - Atualizado em 11/12/08 - 20h29

8.12.08

"De vez em quando Deus me tira
a poesia.
Olho pedra e vejo pedra mesmo"
Adélia Prado
A poesia brota no dia, nas horas do relógio a cada instante.
Ontem, pedra; hoje, não sei.
De tanta poesia, sensações e sentimentos,
2+2
representam mais que
quatro
um infinito de significados.

26.11.08

Memórias de uma pedra

De pedra nasce pedra. Não é à toa que o etimo de um dos exemplos humanos mais respeitado vem do reverso do sedimento - Pedro; pedra. Mostra-nos a imponência de um dos divinamente eleitos. Água mole, pedra dura; duro feito pedra; passarinho que come pedra...são alguns exemplares do ícone exaltado neste espaço mais erosivo de opinião. Tudo é pedra. Desde a idade da pedra lascada até os terríveis caminhos das pedras, o homem não pode sequer conceber sua existência sem os conglomerados de minérios. Silício, computador; pedra. Dois dos componentes deste hebdomadário virtual, Cahoeiro de Itapemerim; pedra em tupi. Coração de pedra também chora. Pedra com pedra; fogo. Para viver e habitar outro mundo, dê-me somente as pedras de meu caminho; pois, até sou capaz de tirar leite de pedra.
Sou pedra, sou forte
sou filho da sorte
guerreiro Rubi!
Da empreiteira pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
herdeiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do corte;
Minha faísca de morte,
herdeiros, parti.
Já vi cruas brigas,
De pedras imigas,
E as duras fadigas
Do atrito provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os abrasivos fugaces
Dos ventos que amei.
Ai, Juca, pedra que ama!

25.11.08

Qual é a sua cota?

Atentem bem aos que estão destacados. Além de não incentivar à cultura ou ao acesso a ela, querem ainda dificultar o que já existe para diminuir o abismo colossal entre os citadinos. Cotas nas universidades; cotas em cargos públicos; cota para os transeuntes frequentadores de veículos de massa; agora, cota para a cultura. Isso não é censura? Quando foi para classificar os programas, interessados, ou não, apareceram na mídia para atacar o governo, estigmatizando-o de censor. No entanto, quando é para os interesses do outro lado oculto das finanças, não há problema: ganha-se artista, ganha-se diretor; ganha-se produtor; ganha-se muito e privilegiados. Se o problema são os crimes, coibem-se. O justo não poderá pagar pelos pecadores. Se há muitos desvios da norma, então pensa-se no modelo vigente. Por exemplo, aumenta-se o número de casas de espetáculo, de peças, de exposição; exige-se modelo padrão nas carteiras de identificação dos discentes, com símbolo oficial; ou até paga-se a diferença às casas de show, sugerindo às escolas escolherem tais atividades como sendo mais uma forma de avaliação. Senadores, deputados, pensai-vos. E não nos furtem o direito de sermos livres para pensar; para aprender.
2 horas, 54 minutos atrás
A Comissão de Educação do Senado aprovou hoje o projeto da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) que regulamenta a meia-entrada em casas de espetáculo, cinemas, shows artísticos, culturais e esportivos. A regra vale para estudantes e idosos com mais de 60 anos de idade. O projeto restringe a emissão da carteira de estudante apenas para matriculados em ensino regular e impõe uma cota de 40% de meia-entrada por espetáculo. O projeto combate a indústria de carteiras de estudante falsas que proliferou no País desde 2001, quando foi permitida a emissão de carteira por qualquer entidade, sem a necessidade de comprovação do estudante. O projeto também cria o Conselho Nacional de Fiscalização, Controle e Regulamentação da Meia-Entrada e de Identificação Estudantil, que será vinculada à Secretaria-Geral da Presidência da República. A sessão de votação, na Comissão, foi prestigiada por artistas e produtores. Entre eles estavam Christiane Torloni, Wagner Moura e Beatriz Segall. Os artistas vinham reclamando do prejuízo nos shows e espetáculos com o derrame das carteiras de estudante falsas, que chegavam a ocupar 80% dos espetáculos, obrigando a elevação do preço do ingresso para os não-estudantes. O projeto segue agora para o plenário do Senado e, se aprovado, seguirá para a Câmara. Caso não ocorra alteração, será encaminhado depois para a sanção presidencial. A expectativa é de que o projeto só entrará em vigor no primeiro semestre de 2009.

http://br.noticias.yahoo.com/s/25112008/25/manchetes-comissao-senado-aprova-projeto-da.html

21.11.08

O apagar da noite

Não sei se estrela pode apagar-se. Estrelas, brilho eterno. Muito se sabe dos brilhos de aluguéis, de pessoas-luas que orbitam a fonte luminosa. Dinheiro, fama, êxito e reconhecimento deveriam ser metas cabais de satisfação plena; mas, não. São centelhas insaciáveis de ambição para a vaidade humana - o anti-brilho das estrelas. Para adentrar ao tema, requer coragem e força, a fim de aprofundar-se densamente nas mais inerentes peculiaridades humanas. Como funciona ou o que determina o constructo idiossincrático de cada indivíduo? Há a cultura; há a educação referencial das escolas e, fundamental do núcleo familiar; há o círculo de amizades e de conhecidos e há a procura de acordo com a afinidade de se aprender. Muitas são as faces desse poliedro complexo de contrução de personalidade. Os caminhos podem ser traçados; no entanto, existem os já determinados pelas normas perenes - a genética, a família e conjuntura fenomológica singular por que passam cada ser vivente. O caso do ator da Globo, assumida, publicamente, a sua dependência química, mostra-nos o quão somos fatalmente levados ao nosso derradeiro destino. Além de suas fraquezas, a força oposta dos ranger dos dentes, das luas-inquilinas, faz com que, cada vez mais, o brilho do sucesso transforme-se em sombra do ostracismo. - Mais do que ser o que se deseja, somos, muitas vezes, aquilo que querem que sejamos. A luta é desigual.
Um contra todos. Um produto a ser valorado pelas regras mercadológicas, em que se manter notório e vendável é o objetivo ímpar. Não sou. Tenho... De intransitivo, a posição verbal dá o lugar a transitividade direta. Quanto mais tenho, menos sou o que fui. Vai-se a força, o preparo, a dedicação, a família, os amigos, os amores, o centro da lucidez e do bom senso - O dinheiro é troca; não, cimento com tijolos.
Triste. Muito triste.
Pedras, chorai-vos.

Pedras apaixonadas

Linha do equador

Caetano Veloso
Composição: Caetano Veloso / Djavan

Luz das estrelas
Laço do infinito
Gosto tanto dela assim
Rosa amarela
Voz de todo grito
Gosto tanto dela assim
Esse imenso desmedido amor
Vai além de seja o que for
Vai além de onde eu vou
Do que sou minha dor

Minha linha do Equador
Esse imenso desmedido amor
Vai além de seja o que for
Passa mais além do céu de Brasília
Traço do arquiteto
Gosto tanto dela assim
Gosto de filha
Música de preto
Gosto tanto dela assim
Essa desmesura de paixão
É loucura do coração
Minha Foz do Iguaçu
Polo sul, meu azul
Luz do sentimento nu

Esse imenso desmedido amor
Vai além de seja o que for
Vai além de onde eu vou
Do que sou minha dor
Minha linha do Equador
Mas é doce morrer neste mar
De lembrar e nunca esquecer
Se eu tivesse mais alma pra dar
Eu daria, isto pra mim é viver
Céu de Brasília, traço do arquiteto
Gosto tanto dela assim
Gosto de filha, música de preto
Gosto tanto dela assim
Essa desmesura de paixão
É loucura do coração
Minha Foz do Iguaçu, polo Sul
Meu azul, luz do sentimento blue
Esse imenso desmedido amor
Vai além de seja o que for
Vai além de onde eu for, do que sou
Minha dor, minha linha do Equador
Mas é doce morrer neste mar de lembrar
E nunca esquecer
Se eu tivesse mais alma pra dar
Eu daria, isto pra mim é viver

Mente aberta como pedra

Eclipse Oculto

Caetano Veloso
Composição: Caetano Veloso

Nosso amor
Não deu certo
Gargalhadas e lágrimas
De perto
Fomos quase nada
Tipo de amor
Que não pode dar certo
Na luz da manhã
E desperdiçamos
Os blues do Djavan...

Demasiadas palavras
Fraco impulso de vida
Travada a mente na ideologia
E o corpo não agia
Como se o coração
Tivesse antes que optar
Entre o inseto e o inseticida...

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Como nunca se mostra
O outro lado da lua
Eu desejo viajar
Do outro lado da sua
Meu coração
Galinha de leão
Não quer mais
Amarrar frustação
O eclipse oculto
Na luz do verão...

Mas bem que nós
Fomos muito felizes
Só durante o prelúdio
Gargalhadas e lágrimas
Até irmos pro estúdio
Mas na hora da cama
Nada pintou direito
É minha cara falar
Não sou proveito
Sou pura fama....

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

Nada tem que dar certo
Nosso amor é bonito
Só não disse ao que veio
Atrasado e aflito
E paramos no meio
Sem saber os desejos
Aonde é que iam dar
E aquele projeto
Ainda estará no ar...

Não quero que você
Fique fera comigo
Quero ser seu amor
Quero ser seu amigo
Quero que tudo saia
Como som de Tim Maia
Sem grilos de mim
Sem desespero
Sem tédio, sem fim...

Não me queixo
Eu não soube te amar
Mas não deixo
De querer conquistar
Uma coisa
Qualquer em você
O que será?

18.11.08

Correspondente do além-céu


Mais uma pedra para este aerópago virtual. Mais uma de Goiás, da cidade das pedras mais bonitas. Seja bem-vinda Pedra! A segunda maior pedra de nosso caminho. Não é nenhuma esmeralda, mas possui um valor inestimável - o valor histórico-científico. 2,5 toneladas! Massa e muita estória para contar.

18/11/08 - 12h19 - Atualizado em 18/11/08 - 13h14

Fazendeiros encontram segundo maior meteorito do Brasil

Meteorito foi localizado no interior de Goiás.Objeto metálico pesa cerca de 2,5 toneladas.

Do G1, em São Paulo, com informações da TV Anhanguera

Moradores de uma fazenda no interior de Goiás descobriram, por acaso, um meteorito que lembra aço na sua propriedade. Um pedaço do material foi encaminhado para o Museu Nacional do Rio de Janeiro analisar. A instituição catalogou e afirmou que ele é o segundo maior já encontrado no Brasil. A suspeita é que tenha caído há centenas de anos e pesaria 2,5 toneladas.

O fazendeiro Eli Braz de Oliveira encontrou a rocha na propriedade da família, mas pensou que fosse uma pedra de manganês. Assim, durante anos a peça foi ignorada pelos proprietários. Recentemente, para verificar, retirou uma amostra do objeto e enviou para a análise. A astrônoma Maria Elizabeth Zucolotto, do Rio de Janeiro, foi quem examinou a peça.

Ao descobrir que se tratava de um material incomum, o fazendeiro Oliveira decidiu retirar o meteorito do local. Enterrou o objeto em uma casa na cidade de Campinorte, a 300 km da capital Goiânia, e saiu da fazenda. Isso porque os fazendeiros pretendem vender o meteorito por um milhão de reais.


Meteoritos são fragmentos de asteróides, planetas ou cometas. Podem ser rochosos ou metálicos. A maioria se desintegra na atmosfera, mas alguns atingem a superfície da Terra.


http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL866266-5603,00-FAZENDEIROS+ENCONTRAM+SEGUNDO+MAIOR+METEORITO+DO+BRASIL.html

17.11.08

Pedrinhas...

Frases e pensamentos voam livremente nas mentes dos poetas. O sonho sempre acaba; como, qualquer criança, o homem cresce com dúvida, com as mesmas dúvidas que não são explicadas ou entendidas. Por quê?


Diante de uma criança

Como fazer feliz meu filho?
Não há receitas para tal.
Todo o saber, todo o meu brilho
de vaidosa intelectual

vacila ante a interrogação
gravada em mim, impressa no ar.
Bola, bombons, patinação
talvez bastem para encantar?

Imprevistas, fartas mesadas,
louvores, prêmios, complacências,
milhões de coisas desejadas,
concedidas sem reticências?

Liberdade alheia a limites,
perdão de erros, sem julgamento,
e dizer-lhe que estamos quites,
conforme a lei do esquecimento?

Submeter-se à sua vontade
sem ponderar, sem discutir?
Dar-lhe tudo aquilo que há
de entontecer um grão-vizir?

E se depois de tanto mimo
que o atraia, ele se sente
pobre, sem paz e sem arrimo,
alma vazia, amargamente?

Não é feliz. Mas que fazer
para consolo desta criança?
Como em seu íntimo acender
uma fagulha de confiança?

Eis que acode meu coração
e oferece, como uma flor,
a doçura desta lição:
dar a meu filho meu amor.

Pois o amor resgata a pobreza,
vence o tédio, ilumina o dia
e instaura em nossa natureza
a imperecível alegria.


Carlos Drummond de Andrade - 1996. "Farewell".

13.11.08

Com versão

Sempre pais

A luz se acendeu nos olhos meus
onde se via a áurea de meus pais
com toda infinita bondade de Deus
eu quero viver, eu quero mais

È impossível desatar os laços
paternos unidos com amor
do primeiro olhar ao último passo
preciso sempre de seu calor

Tal qual a semente da flor
eles nos nutrem até o fim
sem dívida, sem mágoa, sem rancor

resumem-se então em vida e em paz
as suas presenças, fazendo de mim
o tempo das gerações anti-fugaz

8.11.08

Pedras que amam

Em tempos de cultismo, lanço-te o trecho do terceiro ato do Sermão do Mandato do Pe. Antônio Vieira - "(...) Amava humildemente, enquanto se teve por humilde; tanto que conheceu quem era, logo desconheceu a quem amava." Devido à minha obrigatoriedade de lê-lo, aproveito em compartilhar essa mensagem, que, por ora, tocou-me profundamente. Na verdade, antes mesmos de amar alguém, teríamos que passar pelo crivo de conhecer-nos. Conhecer de maneira densamente límpida. Não pode o homem querer buscar no outro algo que se complete por dentro. Impossível. Os limites corpóreos impedem a residência do amado exatamente dentro de nós. Cara-metade? Não! Rostos unidos, braços dados e olhares cúmplices. Depois de uma desventura, é chegada a hora de conhecer-nos. "Ó, Tempo-Rei/Ó, Tempo-Rei..."!

Vivendo e aprendendo com toda a dor que o amor nos traz. Seria bom se fosse somente um rima...mas dói no peito.

28.10.08

Amarelo, verde, azul...branco. E a situação, preta.


O tema é polêmico e complexo demais para tratar em linhas gerais. A necessidade da mulher em trabalhar vai muito além do compromisso de prover uma família. Não que o mercado ou os tempos tornaram-se piores do que anos atrás, mas é a pressão seletiva antropológica é cada vez mais exclusiva, principalmente, em se tratar do âmbito global. O que hoje se determina, ou se preza, é repercutido veloz e catastroficamente no mundo de relacionamentos. Passadas as vilas e as aldeias, o cenário contemporâneo permite o acesso às informações, às riquezas e o caráter humano ser dissecado em Kbytes por segundo.

A mulher, o ser humano, possui o intrínseco desejo de se manter digno e notório frente aos seus pares. Ser mãe, profissional, cobiçada, administradora de lar, ótima filha, querida irmã, fiel amiga são alguns dos pilares de sustentação. Há de explorar mais sucinto e honestamente acerca deles de maneira individual e em conjunto; porém, há também outros contra-pilares, como, por exemplo, a ímpar instância de se viver, sobreviver, manter-se bem e satisfeito, mesmo a custa de alguns pilares ruírem. Quanto mais se aumenta o eu-desejo, mais se diminui a chance de ser plenamente satisfeito.Viver abraçado não enche o ego de ninguém - ficamos meio cheio e meio vazio. Viver separado exclui a chance de estar-se plenamente satisfeito.

Enfim, nesse complexo polígono da vida, mais vale encostar-se numa só aresta apenas do que ficar indefinido num vértice qualquer. Nele, somos nada; nela, aparecemos.

Wilen Norat Siqueira



Por Cynthia Magnani • 28/10/2008
No últimos três séculos, a situação das mulheres na sociedade, graças ao movimento feminista, mudou bastante: votamos como os homens, podemos pedir o divórcio por vontade própria e somos maioria nas universidades. No entanto, em relação ao acesso ao mercado de trabalho, as mudanças têm ocorrido de maneira um pouco mais lenta. E o mais perturbador: a maternidade ainda é, muitas vezes, um entrave para a carreira. Uma pesquisa feita por uma das maiores empresas de recursos humanos norte-americanas, o grupo Catalyst, indica que cerca de 25% das mulheres com filhos pequenos decidem não voltar a trabalhar após o nascimento deles. Os pesquisadores entrevistaram quase duas mil mães entre 20 e 44 anos nos Estados Unidos, Canadá e Suécia, e perceberam que, para 43% delas, a vida profissional passou a interferir negativamente no ambiente familiar. Segundo 83% das entrevistadas, a chegada de um filho fez com que elas passassem a valorizar mais uma vida em família equilibrada do que o sucesso na carreira.
A mulher moderna acumula as funções de cuidar de casa, do trabalho, do próprio corpo (afinal, a concorrência anda acirrada), do marido e dos filhos. Como se não bastasse, o sexo feminino ainda sofre preconceitos, como salários menores que os dos homens e pouca representatividade entre os cargos de chefia de grandes empresas, por exemplo.
As sanções para quem não respeita os direitos das mulheres são jurídicas e legais, mas também de quebra de contratos comerciais ou de imagem
Segundo Leyla Nascimento, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos - seção Rio de Janeiro (ABRH-RJ), a mais conhecida forma de preconceito é a demissão de profissionais mulheres ao saberem que elas estão grávidas. "É uma visão míope da empresa que, ao comportar-se dessa forma, gera um clima organizacional péssimo, que impacta na performance e nos resultados dos demais funcionários. E o que considero pior: reflete no mercado uma imagem muito ruim. A marca passa a não ser valorizada, pois a empresa esquece que estamos na "sociedade do relacionamento" e essas informações são transferidas para o mercado. Nenhum profissional quer ter no seu currículo uma empresa que não possua uma boa imagem. Assim, a organização passará a ter dificuldades de reter os seus talentos ou de recrutar bons profissionais. Além disso, no mercado global, muitos países não mais aceitam estabelecer relações comerciais com empresas que não trabalham com a diversidade. As sanções para quem não respeita os direitos das mulheres são jurídicas e legais, mas também de quebra de contratos comerciais ou de imagem", alerta.
Mas, infelizmente, muitas empresas ainda torcem o nariz ao saber que uma funcionária está grávida ou que pretende ter filhos em breve. Isso em pleno século XXI. Por esses motivos, muitas mulheres adiam a gravidez ou simplesmente abrem mão de serem mães, apenas para se dedicarem ao trabalho.

A relações-públicas contratada pelo Exército Ana Luiza Oliveira é uma das que optaram por esperar um pouquinho mais para engravidar por causa do trabalho. "Para exercer a profissão em que me formei e buscar aperfeiçoamento através de cursos de especialização tive que mudar de cidade e construir minha vida em um lugar diferente. Acho que ainda é possível, sim, conciliar filhos e trabalho, mas é necessário ajuda de outras pessoas, como familiares, babás ou creches. Por isso achei melhor esperar mais para realizar o meu grande sonho de ser mãe", diz. Depois de cinco anos morando no Rio de Janeiro, Ana Luiza conseguiu, este ano, voltar para sua cidade natal, Volta Redonda, no interior do estado. Ela se diz pronta para retomar o sonho da maternidade. "Como atualmente minha vida está mais engrenada, pessoal e profissionalmente, podendo conciliar minha carreira com a vida pessoal, estou programando para o próximo ano a vinda do tão esperado baby", comemora.

http://msn.bolsademulher.com/familia/materia/maternidade_ou_profissao/31722/1

25.10.08

O sublime e o atroz são características do homem?
O que leva ao sublime e ao atroz?

O sublime é um estado da alma do ser humano.
É um momento único de sentimentos de prazer e paz interior. É um minuto de inspiração em que o homem encontra-se unido ao Universo, deixando de ser uma parte do todo e
passando a fazer parte desse todo.
O atroz é uma característica do homem. É uma característica de
sobrevivência da espécie.
O sublime é divino, especial e único.
O atroz é cotidiano, necessário e comum.
O sublime é um prêmio que alguns homens recebem em alguns momentos da sua vida.
O atroz é uma característica que persegue o homem por toda a sua vida.
O sublime o homem nem sempre alcança...
O atroz o homem sempre possui...
O homem é elevado a um estado sublime pela beleza e perfeição do inexplicável Universo.
O homem age atrozmente pela necessidade de sobreviver nesse inexplicável Universo.


Profa Emília Freitas
Departamento de Anatomia - UFRJ

Os opostos não se atraem; são as mesmas coisas

O sublime e o atroz são características do homem?
O que leva ao sublime e ao atroz?


De um grão, tudo

De um afeto, tudo.


Será que afeto e grão estão no mesmo estrato conotativo ou denotativo? Numa rápida e rasa análise poder-se-ia dizer que sim; já que, segundo o que foi estabelecido como proposições, leva-nos a conectar sentenças lógicas e a concluirmos de forma equivocada. O tudo não cabe em si.
Somos substância; somos pensamentos. Somos lembranças ou até mesmo esquecimento. No entanto, se nem mesmo um preciso delito pode ser isento de evidências, nós, homens, também somos singularmente notáveis. De uma singamia, um mundo de sentimentos e sensações – É tão sublime quanto atroz. De energia em energia, autólise e apoptoses, uma célula desenvolve-se em muitos milhões iguais a primeira – em um ser humano. De mortes, uma vida. De muitas mortes, tua vida. De um ato atroz conjugal ou extra-conjugal, uma vida. Acaso, os fins justificam, explicam, entendem, compreendem, dizem o tempo ou as circunstâncias dos meios? Há muitas relações e pouco sentido. O juízo que se tem acerca do recato de viver é dependente da estreita visão que se tem dos fatos. Eu, sublime; Tu, atroz.
Da luz da alvorada ao brilho especular da lua
do cheiro de jasmim logo de manhã
do choro pueril ao beijo da amada
vêm o sublime e o atroz
juntos.

6.10.08

"Vou-me embora pra Pasárgada"!

O povo sabe o que faz e tem o que merece!

Com 42.060 (1,31%), a candidata Clarissa Barros Assed Matheus de Oliveira, obteve o quinto lugar das eleições a vereadores da Cidade do Rio de Janeiro, já no seu primeiro intento. Ao lado de seu pai, a força hereditária impunhou ladeira a baixo o sucesso de quem nasceu ontem para a vida política. O casal Garotinho, um vez lá trás, respondeu processos e teve a quase inelegibilidade de suas candidaturas a posteriori. Porém, o destino os triunfou: tendo ou não a chance de concorrer, os seus braços genéticos, herdeiros do reino da polis, irão re-editar os marcos, os feitos épicos dos sonhos infantis - com fadas, príncipes, anões, monstros e finais adolescentes, pois os garotos crescem.

Sem contar o eminente Stepan Nercessian com 50.532 (1,57%). A vida é uma graça!

Agora, o ilustríssimo José Eduardo Figueiredo BRAUNSCHWEIGER, do PSTU, obteve o distinto ZERO de voto; mas DEZ na honestidade. Nem ele confia em sua competência para o trabalho na administração pública como vereador. Um homem íntegro, com bom senso e honesto em suas ações e bravatas. Aplausos!


RESULTADO DAS ELEIÇÕES NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
Prefeito
Candidatos
Votos
%
EDUARDO DA COSTA PAES
Partido: PMDB
1.049.010
31,98%
FERNANDO PAULO NAGLE GABEIRA
Partido: PV
839.990
25,61%
MARCELO BEZERRA CRIVELLA
Partido: PRB
625.220
19,06%
JANDIRA FEGHALI
Partido: PC do B
321.005
9,79%
ALESSANDRO LUCCIOLA MOLON
Partido: PT
162.926
4,97%
SOLANGE AMARAL
Partido: DEM
128.591
3,92%
FRANCISCO RODRIGUES DE ALENCAR FILHO
Partido: PSOL
59.361
1,81%
PAULO SERGIO RAMOS BARBOZA
Partido: PDT
59.146
1,80%
FILIPE DE ALMEIDA PEREIRA
Partido: PSC
17.576
0,54%
VINICIUS CORDEIRO
Partido: PT do B
13.353
0,41%
EDUARDO GONÇALVES SERRA
Partido: PCB
2.663
0,08%
ANTONIO CARLOS SILVA
Partido: PCO
961
0,03%
Total de votos: 3.279.802

http://br.eleicoes.yahoo.com/riodejaneiro/eleicao2008/1turno/

30.9.08

É errando que se aprende...é o melhor erro da História

É notória a estranheza dessa popularidade do Presidente Lula. Homem, proveniente do povo, pobre e com apenas formação profissionalizante, conseguiu alcançar proporções e dimensões nunca antes atingidas por outras figuras políticas mais refinadas. Há pouco, já tinha sido hóspede da rainha Elizabeth II, conforme registra a revista Isto É em 15/03/06 (http://www.terra.com.br/istoe/1899/brasil/1899_o_desbrunde_londrino_de_lula.htm ). Um fato também de tamanha estranheza, pois é a primeira vez que um chefe de Estado brasileiro torna-se convidade da aristocracia inglesa. Como pode, esse torneiro mecânico chegar aonde chegou? Uns dirão do acaso altamente fortuito; outros do oportunismo da História ou do mercado -político; e ainda terão aqueles que farão pouco do momento e ficarão à margem maculando o cenário contemporâneo. Eu, porém, aposto no tiro que saiu da culatra - um erro mal calculado. Como ensinar para as crianças que a falta de anos de estudos e de investimentos pesados na educação fazem do país Auriverde sede do Presidente sem pós-graduação ou dos heróis de chuteiras com vícios e com silepses sintáticas? É fato: o Lula é pop, valendo a máxima do "falem mal, mas falem de mim". Todos que estão no telhado, límpido e cristalino, sofrem de chuvas de pedra. E mesmo ocorrendo tal risco, todos os outros desejam estar sob o torrencial de monolitos. No país campeão de popularidade com Big Brother e Orkut, querer aparecer é pouco - a imagem é tudo! Não temos Gentileza; temos sua marca apagada entre os focos da media:

Gentileza


Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
A palavra no muro
Ficou coberta de tinta

Apagaram tudo
Pintaram tudo de cinza
Só ficou no muro
Tristeza e tinta fresca

Nós que passamos apressados
Pelas ruas da cidade
Merecemos ler as letras
E as palavras de Gentileza

Por isso eu pergunto
À você no mundo
Se é mais inteligente
O livro ou a sabedoria

O mundo é uma escola
A vida é o circo
Amor palavra que liberta
Já dizia o Profeta.

Marisa Monte


Ter, 30 Set, 09h42Uma biografia em inglês do presidente Luiz Inácio Lula da Silva será lançada hoje em Londres. O professor Richard Bourne, da London University, retrata a vida do presidente em "Lula of Brazil - The Story So Far", publicada pela Zed Books. O livro levanta a história de Lula desde sua infância no Nordeste brasileiro, passando pela atuação sindical no ABC paulista, a fundação do Partido dos Trabalhadores, as tentativas de eleição presidencial em 1989 e 1998, as campanhas vitoriosas em 2002 e 2006 e também pelos escândalos de corrupção que abateram as figuras mais importantes do seu governo.
Com 272 páginas, a biografia é apresentada como "a história de um homem contra a história contemporânea de um poder emergente". O britânico Richard Bourne visitou o Brasil pela primeira vez em 1965, como jornalista do jornal "The Guardian". Ele também é autor de outros livros sobre a América Latina, como "Assault on the Amazon", "Getúlio Vargas of Brazil: Sphinx of the Pampas" e "Political Leaders of Latin América".
http://br.noticias.yahoo.com/s/30092008/25/politica-academico-britanico-lan-biografia-lula-ingles.html

25.9.08

Sal a gosto.

Quem diria...o sal, pior, o pré-sal garantirá prosperidade e riqueza. Um produto, em outras épocas, ligado a conotações de simplicidade, de pobreza e de banalidade, hoje, elevado a um símbolo pátrio. Foi até usado como arma linguística para confrontar a moral e a ética médica, segundo o ministro Ciro Gomes. Sal, pré-sal, não importa o seu estado e sim do uso que se faz. Num discurso quase messiânico, inflamado com tensões pré-eleitoreiras, a ministra profetizou um feito: erradicar a pobreza! Melhor: erradicar em menos de dezoito anos. Hoje, vinte e cinco de setembro de dois mil e oito, daqui a este prazo máximo, a memória sustentará as lembranças.
Prefiro, agora, temperar o meu churrasco com sal grosso e sentir o ainda gosto salgado do sal. Afinal, até as lágrimas têm o seu sabor.



Com pré-sal, Brasil erradica pobreza em menos de 18 anos, diz Dilma
Jeferson Ribeiro Do G1, em Brasília.

Segundo ela, descoberta não foi sorte, mas fruto de trabalho e tecnologia.Dilma disse que investimento em exploração já atinge R$ 50 bilhões ao ano.
A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) afirmou nesta quarta-feira (24) que os recursos obtidos com a exploração em águas ultraprofundas ajudarão na erradicação da pobreza em um prazo inferior a 18 anos. "Com o Bolsa Família, com a infra-estrutura e com a questão da educação vamos levar uns 15 a 18 anos para acabar definitivamente com a miséria e com as diferenças e as desigualdades gritantes do país. Nós iremos usar esses recursos [da exploração do pré-sal] para encurtar o processo", disse.
Segundo a ministra, "o pré-sal vai fazer com que esses passos se reduzam". "Ao invés de dar dez passos, vamos dar quatro. O que o pré-sal permite ao Brasil é antecipar etapas de desenvolvimento e de crescimento”, afirmou a ministra durante evento para gerentes e superintendentes da Caixa Econômica Federal, em Brasília.
Dilma Rousseff declarou que a descoberta de petróleo na camada pré-sal não foi golpe de sorte, como costuma afirmar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas fruto da “inteligência” e da “tecnologia” brasileiras. “Nós tivemos não a sorte, mas o esforço de uma instituição de excelência, a Petrobras. Isso não caiu do céu, foi produzido pela inteligência brasileira e pela tecnologia brasileira”, disse. Ela exaltou ainda o aumento dos investimentos do governo federal em produção e exploração de petróleo. Segundo a ministra, em 2002 eram investidos cerca de R$ 250 milhões na área. Agora, os investimentos chegam a R$ 50 bilhões.

Mais prazo de estudo:

A ministra afirmou também que a comissão interministerial criada no governo para discutir o novo marco regulatório para exploração e produção de petróleo na camada pré-sal vai analisar a possibilidade de ampliar o prazo para fechar as propostas que serão apresentadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Amanhã [quinta-feira 25] nós vamos avaliar se vamos pedir mais um prazo ou não, mas a situação está bem encaminhada, os estudos estão muito bem feitos, tanto pelo Ministério de Minas e Energia quanto os apresentados pela Petrobras, pela ANP [Agência Nacional de Petróleo], e pela Empresa de Pesquisa Energética [EPE]. É uma solução complexa, e nós queremos colocar à disposição do presidente alternativas consistentes, sólidas, bem elaboradas”, explicou. A prorrogação dos estudos que deveriam ter ficado prontos no último dia 19 foi pedida pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Lula já disse que começará a discutir o tema com o grupo após as eleições municipais.

16.9.08

De pedra em pedra...

Sciens Jesus quia venit hora ejus ut transeat ex hoc mundo ad Patrem, cum dilexisset suos qui erant in mundo, in finem dilexit eos.
Quem entrar hoje nesta casa — todo-poderoso e todo amoroso Senhor — quem entrar hoje nesta casa — que é o refúgio último da pobreza e o remédio universal das enfermidades — quem entrar, digo, a visitar-vos nela — como faz todo este concurso da piedade cristã — com muito fundamento pode duvidar se viestes aqui por pródigo, se por enfermo. Destes o céu, destes a terra, destes-vos a vós mesmo, e quem tão prodigamente despendeu quanto era e quanto tinha, não é muito que viesse a parar em um hospital. Quase persuadido estava eu a este pensamento, mas no juízo dos males sempre conjecturou melhor quem presumiu os maiores. Diz o vosso evangelista, Senhor, que a enfermidade vos trouxe a este lugar, e não a prodigalidade. Enfermo diz que estais, e tão enfermo que a vossa mesma ciência vos promete poucas horas de vida, e que por momentos se vem chegando a última: Sciens Jesus quia venit hora ejus (Jo. 13,1). Qual seja esta enfermidade, também o declara o Evangelista. Diz que é de amor, e de amor nosso, e de amor incurável. De amor: cum dilexisset; de amor nosso: suos qui erant in mundo; e de amor incurável e sem remédio: in finem dilexit eos. Este é, enfermo Senhor, e saúde de nossas almas, este é o mal ou o bem de que adoecestes, e o que vos há de tirar a vida. E porque quisera mostrar aos que me ouvem que, devendo-vos tudo pela morte, vos devem ainda mais pela enfermidade, só falarei dela. Acomodando-me pois ao dia, ao lugar e ao Evangelho, sobre as palavras que tomei dele, tratarei quatro coisas, e uma só. Os remédios do amor e o amor sem remédio. Este será, amante divino, com licença de vosso coração, o argumento do meu discurso. Ainda não sabemos de certo se o vosso amor se distingue da vossa graça. Se se não distinguem, peço-vos o vosso amor, sem o qual se não pode falar dele, e se são coisas distintas, por amor do mesmo amor vos peço a vossa graça. Ave Maria.
Os remédios do amor e o amor sem remédio são as quatro coisas, e uma só, de que prometi falar, porque, sendo a enfermidade do amor a que tirou a vida ao Autor da vida, não se pode mostrar que foi amor sem remédio, sem se dizer juntamente quais sejam os remédios do amor. Desta matéria escreveu eruditamente o Galeno do amor humano, nos livros que intitulou De Remedio Amoris, cujos aforismos, porque hão de ser convencidos, entrarão sem texto e sem nome, como quem não vem a autorizar, senão a servir. Os remédios, pois, do amor mais poderosos e eficazes que até agora tem descoberto a natureza, aprovado a experiência e receitado a arte, são estes quatro: o tempo, a ausência, a ingratidão, e, sobretudo, o melhorar de objeto. Todos temos nas palavras que tomei por tema, e tão expressos que não hão mister comento: Cum dilexisset, eis aí o tempo; suos qui erant in mundo, eis aí a ingratidão; ut transeat, eis aí a ausência; ex hoc mundo ad Patrem, eis aí a melhoria do objeto. E com se aplicarem todos estes remédios à enfermidade, todos estes defensivos ao coração, e todos estes contrários ao amor do divino Amante, nem o tempo o diminuiu, nem a ingratidão o esfriou, nem a ausência o enfraqueceu, nem a melhoria do objeto o mudou um ponto: In finem dilexit eos. Estas são as quatro partes do nosso discurso; vamos acreditando amor e desacreditando remédios.
O primeiro remédio que dizíamos é o tempo. Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já não fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta que sejam usadas para não serem as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não amar, e o ter amado muito, de amar menos. Baste por todos os exemplos o do amor de Davi.

Sermão do Mandato, 1643 - Padre Antônio Vieira.

Minhas amadas pedras.

"Água mole, pedra..." Pedra dura, pedra sabão, pedra lascada, pedra no olho e no sapato. São tantas pedras que é possível construir todos caminhos do mundo. Vem dos confins do universo, vem do âmago do poeta, a pedra torna-se um símbolo de rigidez. A rocha do evangelho. O imenso monolito do verdadeiro amor. Pedra. Conglomerado de minerais, com cada um alheio ao ao outro: ciranda de pedra. Nasce homem; morre pedra; transforma-se em pó. Coração vira pedra. A mente vira pedra. O computador vira pedra. Roda ciranda, rodam os homens-de-pedra, numa roda viva ebúrnea de sensações e sentimentos. Ai, que saudade das pedrinhas nas calçadas, das conhas na praia, que jaziam somente. Pegava-se. Chutava-se. E nada mais. Hoje, meu vizinho é pedra, meus irmãos são pedras, meus pais são pedras, meus amigos, pedras. Eu, pedra.
Duros feito pedras.
Pedra
Djavan
Sede de amor
Febre de anseio
Quase a escuridão
Você partiu, me reduziu,
Amor, me perco em lágrimas
Não mais a vi, desde abril,
Fui pro mar E você lá deitada na pedra
Que inveja dessa pedra
O que ficou, eu compreendi,
Face àquela visão
O que era amor inda me diz: Pena que tudo acabe...
Um lance novo me despertou
Desde já, só quero estar
Com quem me serve
E, de resto, serei breve!
Nada fica em pé pra quem se quebra numa paixão
O mundo é vão
E tudo é só um oco absurdo
Não mais me vejo assim
Tô a pé, mas chego onde vou
Revê-la só foi ruim
Porque nada me causou
Doeu, me ressenti
Quando você me desprezou
Mas hoje estou aqui: algo como uma flor na pedra
Preste a nascer

28.8.08

Pedras e vidraças.

Quinta-feira, 28 de agosto de 2008, 11h40
Por que anencefalia entra novamente em pauta?
Dr. Frei Antônio Moser
Assessor da CNBB para assuntos de bioética
Há dois anos os debates relacionados com o que se denominou de anencefalia eram tantos e tão acesos, que pareciam traduzir o problema mais grave e mais urgente do Brasil. Melhor dito, criou-se uma sensação de que quase todos os "conceptos" eram anencéfalos e que se impunha uma medida urgente, urgentíssima para resolver o problema: autorizar o abortamento.

Depois, os debates relacionados com o uso de embriões congelados para fins terapêuticos e as sucessivas tentativas de liberar, pura e simplesmente, o abortamento colocou a questão da anencefalia no esquecimento. Agora, diante de um iminente pronunciamento do Supremo Tribunal Federal, a questão volta à tona com toda a força. Por isto mesmo, urge recolocar as verdadeiras questões.

Quando falamos em "anencefalia" não apenas nos encontramos diante de uma palavra difícil, como também diante de uma palavra que se presta a equívocos.
O equívoco da palavra fica evidenciado quando sugere que os fetos portadores de uma má formação no cérebro não teriam cérebro. Na realidade o que lhes falta é o fechamento do tubo neural. A palavra certa seria meroanencefalia.

Mas os maiores equívocos não se relacionam com a palavra, e sim com a maneira como vem sendo apresentada esta realidade. Embora devamos reconhecer que nos encontramos diante de um drama, é preciso logo observar que, ao contrário do que certos debates sugerem, o número de casos é relativamente pequeno. Uma estatística realizada pela Universidade de Minas Gerais cobrindo a década de 1990-2000 assinala que em 18.807 partos, constataram-se apenas 11 casos que nasceram vivos e 5 natimortos.

Uma segunda observação se faz necessária: considerando as estatísticas mundiais, nosso índice é alto, o que sugere que os casos de meroanencefalia, remetem para fatores múltiplos, inclusive ambientais. Entre estes fatores o mais importante é aquele que é mais facilmente contornável: ausência de ácido fólico.

Em terceiro lugar não podemos nos esquecer o sofrimento da mãe e dos parentes mais próximos. Eles precisam de todo o apoio possível, a nível médico, psicológico, religioso...

Um eventual abortamento só iria aumentar esse sofrimento. Por isso mesmo a pergunta é: "Por que a questão volta a entrar em pauta?" Não seria pelo interesse de aproveitar células e órgãos? Não seria para abrir as portas a todo e qualquer tipo de abortamento? Tudo isso dá o que pensar.

27.8.08

Ponto.

Mais um ponto

"O homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe permita".

Guimarães Rosa

Por ora, uns poderiam dissertar bastantes linhas, esgotar todo labor cognitivo para tentar aproximar a ciência da arte; já outros dissertariam mais períodos e pensamentos acerca dessas duas partes universalmente singulares. Ou então, ambos serem irresponsavelmente imediatistas e atribuírem seus signifivados semânticos-culturais num rápido processo intelectual, desprezando qualquer ínfima reflexão. Basta a condição sine qua non humana para o agir científico e a percepção artística reagirem em um mesmo sistema antropológico. Lembrar as conjecturas de Descartes, ou as descrições filosóficas greco-romanas sobre simetria, medidas e modelos, ajudam-nos ir ao encontro da capacidade inata de o ser humano pensar e reproduzir, por figuras ou por letras, suas emoções e seus sentidos.

Como a orientação específica dos átomos, de moléculas em moléculas, cada olhos de visão, cada ponto-de-vista, revela-se numa magistral expressão solitária de sentimentos pessoais. Não tem jeito: a relação da ciência com a arte é, ao mesmo tempo, nenhuma e totalmente afim. Confuso? Não. Constituem definições dinamicamente conceituáveis, de acordo com a conjuntura, com o tempo, com o credo, com o gênero, com a raça e com diversos parâmetros instáveis ao sabor do caos cosmológico. Nota-se, dessa forma, que desenhando a linha que perpassa cada âmbito particular, tem-se o círculo da verdade: em que o centro pode ser comum, mas o raio depende da insconstante demografia em questão. Dois mais dois, além de implicar quatro, resultam também números quase infinitos de possibilidades de criar um ser humano – a matemática nem sempre é tão exata; parece mais uma mágica. No meio da ciência e da arte, há tropeços: a arte de aprender e a arte de ensinar – a pedra filosofal do caminho da existência.

Ponto: Entre a questão de ensinar ou de aprender, na vida, a melhor opção é viver. Parece ser redundância o último período grafado, mas representa o quão é inócuo posicionar-se diante das quase normas de condutas. O dinamismo dos fatos ou das circunstâncias faz com que esse tropeço etimológico seja um pilar em constantes transformações de pensamentos e de abordagens do processo de transmissão de conhecimento. Irão existir inúmeros defensores a dizerem que no ensinar há um dom artístico, quase mágico; enquanto, um não-menor número firmará posição na suma competência sócio-biológica de poder aprender sob a égide do determinismo natural. Cada ponto-de-vista especializa-se em se justificar, de preferência, em contraposição ao que se deseja combater; e, a partir daí, polarizam-se. Bem, de versões a versões, vão construindo-se verdades e mais verdades sobre o cimento dos fatos. E a arte? Essa está na maneira livre e espontânea de se associar a um dos pólos. Do nada, pode-se fazer o mundo – isso é arte.

Até o não-fazer poderá ser relevante no pleno processo de ensinar. No entanto, há aqueles que se dedicam à construção ativa do sujeito ávido pelo conteúdo a ser ensinado. Diversas teorias baseadas em bastantes modelos eficazes e em outros nem tanto, aliam-se ou confrontam-se com a sútil finalidade de transmitir as informações referenciais. Modelo de sala de aula em ambiente fechado, com normas e uniformes, giz e professores perante a assembléia disposta a sua frente, mostra-se vigente e ainda é eficaz nos dias de hoje. Pouco importa se um gosta ou não entende, a preocupação está na média: determina-se o quanto deverá saber de tudo que fora exposto. A apótema do dodecágono inscrito num certo círculo é tão fundamental quanto o conceito e as utilidades de uma função de primeiro grau. E a arte? Está na abstração da utilidade; na recompensa do final de ano, quando se é aprovado para cursar o próximo ciclo de aprendizado. A arte é a forma de como se entende; se vê e se adquire. Por outro lado, há os que acreditam na aquisição natural do aprendizado, respeitando assim, o tempo particular de cada desenvolvimento cognitivo. Para esses, o indivíduo é uma peça acabada. Será uma questão de horas para o sujeito perceber o seu mundo. Ensinar passa pelas mais energéticas atividades humanas: como dizer a um russo que um bom samba é dois pra lá, dois pra cá? Por mímica? Não sei. A vida imita a arte, mas o oposto...

É assim, dois pra cá, e as pernas soviéticas não acompanham com a mesma naturalidade. É a harmonia, o rítmo, o compasso e o enredo. São muitas variáveis e limitantes, para que a adequada forma de se tentar ensinar torne-se realmente eficiente. A maneira com a qual o russo apreenderá a mímica está intimamente associada à sua acumulação cultural: sua genética e seu ambiente social. Enfim, depende de sua arte de agir diante dos fatos e dos acontecimentos. Imaginar-se – É rima, é parte, é arte, é cada ponto-de-vista.

Na outra ponta do mister vínculo humano, há os tijolos do grande muro da ciência – a capacidade inata de aprender. Por diversas vias, vêm as informações: pelos olhos, pelos ouvidos, pelas mãos e até pelas narinas e pela boca. Aprender é sentir. E a arte? É o sentimento livre. Não se pode aprender sem sentir emoções; elas permitem o mergulho profundo nas águas do saber. A ciência já demonstrou por alguns ensaios de neurociência que pelo impacto das ações, pelo sentimento, a memória tão necessária para o aprendizado cristaliza-se na mente. É fácil testar tal assertiva, se imaginar, que, além dos cinco sentidos, a capacidade de associação dos fatos ou dos eventos permite resgatar aquilo uma vez já apreendido; seja pela leitura, pela escrita ou pela vivência. Se viver é sentir e aprender é sentir; nem ouse concluir o silogismo. Pronto. Aprender é isso. Uma lembrança; um conhecimento. Os detalhes, só quando interessam.

A uma flor, água, luz e terra. A uma criança, estímulo, atenção e carinho. Pode-se, dessa forma, parecer uma rasa simplificação; no entanto, é o método mais eficaz para levar ao ser em formação as ferramentas fundamentais para o seu construtivismo intelectual. Terão alguns com fortes discordâncias a respeito do método citado. Constrói pra cá, socializa-se pra lá, impõe-se de um jeito ou deixa acontecer, pois tudo que se precisa já vem pronto. Não importa. Nunca se deve esquecer, portanto, da finalidade: transmissão de forma mais agradável a informação. Se é útil, só o tempo e a oportunidade dirão. Cada ser é um universo singular, o qual caberão a ele necessidades especiais, com a atenção que merece. Enquanto o estímulo, vem da dinâmica instável do afluxo de conteúdos referenciais ou informais, capazes de prover sempre o crescimento pessoal; já o carinho, é a ponta mais complexa do processo. Com toda relevância dos sentidos, da lembrança, das emoções dos acontecimentos ou do impacto dos fatos, a maneira de se abordar, mostrando-se próximo e atento às dificuldades particulares, com todo carinho à disposição, é fundamental. Inicia-se lá pelos primórdios da comunicação, em que os pais, ou quem se dedica à criança, preocupam-se com o olhar, com o toque, com, de novo, a atenção; visto que são esses primorosos momentos que cada indivíduo sentir-se-á protegido, seguro de si e apto para aprender e logo ensinar; é como se fosse um repositório de segurança sendo completado, e, quando mais cheio, mais se consegue transmitir; quando se menos, por pouco tempo. Segurança permite ter força. Fornece poder. E dela se emana a faculdade do aprendizado ativo, aquele que, por interesse próprio, liberta os seres umbrais da terrível sombra da ignorância. Sem vontade, sem luz.

Até um computador pode ensinar, devido a sua alta capacidade de armazenagem de informações, fazendo a interface humana aprender; pois, pela arte dos sentidos, é que o lúcido entendimento é possível. Do contrário, é a ausência de substanciais indefinições da natureza humana, tais como: sentir, ter vontade, consciência; que faz do computador uma criatura estática, limitada com seu raciocínio binário. O que adianta garantir o pleno acesso às notícias e às informações, seja através da memória, seja da conexão entre computadores; se o que permite o rico espírito dinâmico e ávido pelo desenvolvimento pessoal é a ímpar função de sermos eternos na arte: tudo tem a sua duração; tudo se acaba; menos a vista de cada ponto, menos o ponto de cada vista, menos o ponto-de-vista de toda obra de arte. A arte expressa-se.

Pode-se, com isso, perceber que a arte permeia ambos os pilares. É a forma autônoma de estar vivo, além de possuir todas as funcionalidades vitais. Respirar é um mecanismo fisiológico; mas viver de maneira intensa e notável é algo unicamente humano. Toda e qualquer explicação acerca da arte de ensinar será insuficiente para se deixar inteligível a arte de aprender. São mais do que dois em um; mais do que mão e luva; mais do que importante ou prioriários; são artes. São expressões de cada vivência passada por um único ponto; ponto de vista na circunferência dos fatos e dos acontecimentos.

18.8.08

(ponto) não sou - cadê o eu?

De conversa em conversa, chega-se ao ponto mais crucial e íntimo: ao eu. Quando essa presença pessoal torna-se frequente e constante, a convivência social fica abalada. É um tal de "eu" pra cá, "eu"pra lá, que o máximo que se consegue enxergar é a própria imagem especular. Individualização. Um processo longo e árduo na formação de cada pessoa. Para isso, requererá um pouco de orgulho, uma colher de chá de vaidade e uma pitada de alguns genes. Pronto. Herança genética, influência cultural, pecados originais e capitais são os pilares fundamentais do grande mal de uma sociedade: conjunto de solitários.
Seja um papo informal com um amigo, uma conversa afiada com colegas ou um diálogo confortante entre familiares, o ponto forte do ego, centro de gravidade e de conflitos, quer resplandecer sozinho a custa de todos à sua órbita de influência: quer unir-se, para tornar-se mais só. Quer mais um, sendo único. Quer brilhar, como a lua.
Palavras, palavras, palavras não são mais do que palavras; com letras atrás de letras. Sem sentidos. A versão cada ponto tem na sua época, no seu credo, na sua raça, no jeito adequado de ser como faces de um mesmo polígono: verdade.
Palavras sem atos são assim. Palavras com atos, singularmente flexionados; covardemente comentados. Cada um com a sentença dos demais; cada um com a imagem dos demais; cada um, pelo outro.
É estranho: o eu não é ele próprio; é terceiros projetados no egocentrismo de todos os seres. Ninguém é ninguém. Somos imagem e semelhança de nossos irmãos - a vontade pessoal que nos enterra no infinito sombrio da prepotência individualista. O pior acusador é nossa consciência; o advogado do diabo.

Cathedral songs

Tanika Takiram

I saw you from the cathedral
You were watching me
And I saw from the cathedral
What I should be

So take my lies
And take my time
'Cos all the others want to take my life

And I watch you with an intent, basic
It's the same for you
You hold your hand
And it's all fine - laced and
What would you make me do?

So take my lies
And take my time
'Cos all the others want to take my life

Serious for the winter time
To wrench my soul
whole cotton, whole cotton ears
But I know there must be
There must be, yes, I know there must be a place to go

You saw me from the cathedral
Well I'm an ancient heart
Yes, you saw me from the cathedral
Well here we are just falling apart

You catch me
I am tired
I want all that you are

I saw you from the cathedral
You were leaving me
And I saw from the cathedral
You could not see to see

So take my lies
And take my time
'Cos all the others want to take my life

13.8.08

Desencontros astigmáticos

Entre o ser e a incompletude da existência, o vácuo da representação diante da tentativa de se notabilizar sob a condição de indivíduo, em uma dada condição e contexto, predomina a fundamental substância do real. As possibilidades são inúmeras. Finge-se o tempo inteiro, e quando se pode, para que se consiga resenhar aquilo que contamos como estória; conta-se sempre o que quer, pois o objetivo é tornar-se protagonista. O ego é o quase fim da gravitação pessoal - limite centrípeto dos interesses particulares. Não há a idéia da entrega complementar; nem a força convergente de ambas as partes; o que vale é o mais genuíno reflexo: dos anseios à forma rasa da capa putrescível humana - O meu reflexo não me conhece. O outro, um engano.

11.8.08

Simplesmente, faces

são fáceis.

nem sempre no início há
Maiúscula
às vezes aparece
no final diminuta
a vontade, a alegria.

Queria poder dizer
com tantos verbos
vozes caladas
de desejo.

a razão pura do conselho
dos experientes, dos pais
ecoa insuportavelmente
nas horas presas
em segundos
passados.

No início, muita força
há tanta força que sustenta o mundo
o mundo pequeno
bem pequeno
para os almejos joviais.

Agora, devagar
bem devagar
as repetições da vida
sem brilho, sem vontade
sem razão.

a antítese dos fatos
o não-real da existência
vendo; ilusões de graça
a monotonia de ser
feliz.

9.8.08

como substâncias.

As coisas

As coisas têm peso, massa, volume, tamanho, tempo, forma, cor, posição, textura, du-ração, densidade, cheiro, valor, consistência, pro-fundi-dade, contorno, temperatura, função, aparência, preço, des-tino, idade, sentido. As coisas não têm paz.

Arnaldo Antunes

simples...

Simples

É simples
Como o giro da terra em torno do eixo
É simples
Como fim de filme sem desfecho
É simples
Como a confecção de um míssil
É simples
Como se livrar de um velho vício
É simples
Como escrever um livro "best-seller"
É simples
Como não querer saber mais dela
É simples
Como destruir fotografias
É simples
Esquecer o amor que foi um dia

Elementar, meu caro amor
Amar é simples...

É simples
Como ler ulisses todo de uma vez
É simples
Como saber falar bom português
É simples
Fazer gols iguais aos de pelé
É simples
Não querer também quem não te quer (quando se quer)
É simples
Esconder o choro todo na garganta
É simples
Fingir que tristeza não é tanta
É simples
Esquecer tudo que foi da gente
É simples
Simplesmente ser indiferente

Jair de Oliveira

facilmente...

Coisas Fáceis

Coisas fáceis,fazer um agrado
Coisas fáceis, abrir um sorriso
Coisas fáceis, estender os braços
Coisas fáceis, agir com juízo
Coisas fáceis, mostrar o caminho
Coisas fáceis, dizer a verdade
Coisas fáceis, cuidar com carinho
Coisas fáceis, viver com vontade

São coisas pra se fazer
Sem esperar recompensa
Coisas pra se querer
Coisas tão simples
E tão difíceis de esquecer
Um abraço, um sorriso, um aceno
Coisas fáceis
Gestos tão pequenos
Coisas fáceis

Jair de Oliveira

coisadas...

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus,
pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

sobre coisas...

Os Ombros Suportam O Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


Carlos Drummond de Andrade

para coisas...

Ao Braço do Mesmo Menino Jesus Quando Aparece

O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.

O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.


Gregório de Matos

construindo coisas...

Buscando a Cristo

A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós, divinos olhos, eclipsados
De tanto sangue e lágrimas abertos,
Pois, para perdoar-me, estais despertos,
E, por não condenar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não deixar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me,
A vós, cabeça baixa, p'ra chamar-me

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.

Gregório de Matos

coisas e mais coisas...

Discreta e formosíssima Maria,
Enquanto estamos vendo a qualquer hora
Em tuas faces a rosada Aurora,
Em teus olhos, e boca o Sol, e o dia:

Enquanto com gentil descortesia
O ar, que fresco Adônis te namora,
Te espalha a rica trança voadora,
Quando vem passear-te pela fria:

Goza, goza, da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda a flor sua pisada.

Oh não aguardes, que a madura idade
Te converta em flor, essa beleza
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

Gregório de Matos

Mais coisas...

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.

Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?

Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.


Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.

Gregório de Matos

há coisas...

O lamento das coisas

Triste, a escutar, pancada por pancada,
A sucessividade dos segundos,
Ouço, em sons subterrâneos, do Orbe oriundos,
O choro da Energia abandonada!

É a dor da Força desaproveitada
— O cantochão dos dínamos profundos,
Que, podendo mover milhões de mundos,
jazem ainda na estática do Nada!

É o soluço da forma ainda imprecisa...
Da transcendência que se não realiza...
Da luz que não chegou a ser lampejo...

E é em suma, o subconsciente ai formidando
Da Natureza que parou, chorando,
No rudimentarismo do Desejo!

Augusto dos Anjos

Depois do fim...

O fim das coisas

Pode o homem bruto, adstricto à ciência grave,
Arrancar, num triunfo surpreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!

Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
Sôfrego, o solo sáxeo; e, na ânsia ardente
De perscrutar o íntimo do orbe, invente
A limpada aflogística de Davy!

Em vão! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio ...

E quando, ao cabo do último milênio,
A humanidade vai pesar seu gênio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!

Augusto dos Anjos


Inauguro neste instante o tempo de poesia; o tempo vago ao encontro das emoções puramente ingênuas. Todos são poetas; cada um com o seu peculiar estilo. É a exclamação do ego, do super-ego completamente extasiado de se entregar sem reservas. Abaixem as armas; estendem os braços abertos; peguem lápis e papel e deixem as idéias livres e apaixonadas; livremente apaixonadas.

Por fora, só verniz

Toda e qualquer cidade, estado ou país, é constituída por meio do Estado de direito democrático, quando for assim organizado sob o molde federativo ou unitarista, desde que tenha plena e ampla representatividade política. As leis, normas de condutas e a moral, por exemplo, são, aos poucos, acrescidas, revistas e respeitadas conforme for; além do grau de instrução social, o compromisso ético de cada cidadão. Ética é formada de maneira socio-cultural, portanto, lenta. Basicamente passa de geração-a-geração através do filtro enviesado da consciência humana - um constructo feito de vivência, de erudição e de genes favorecidos ao longo do tempo.
Da telinha para o já inexistente telhado de vidro de nossa representatividade, o deputado Hugo Leal vem acompanhado da Lei de deixar água na boca - a Lei 11.705/08, que tem por objetivo diminuir os acidentes provocados pela imprudência de dirigir depois de uns goles e outros contendo etanol. Pressão total é o lema dos órgãos opressores e ostensivos contra os citadinos de bem. Multa pesada, apreensão do veículo e perda da licença de dirigir. Pronto. Com essa forma extra de aumentar os salários pífios de nossos servidores públicos da Segurança, a meta há de ser alcançada. No entanto, hoje, num telejornal de alta audiência, expõe uma pessoa, a qual detém o título de pesquisadora, para lamentar-se da diminuição da queda de tais acidentes. Ora, não é necessário de metade dos títulos desse ser para podermos concluir que acidentes acontecem. São eventos, por definição, fortuitos e raros. Além de, também, não ser tão difícil de perceber em que se tratando de acidentes automobilísticos, ingesta de bebidas alcoólicas não é a única causa. Acidentes vão acontecer e, com isso, a avaliação da eficácia da adesão à lei é, de fato, mais complexa.
Será, que esse imediatismo baseado em causalidades diretas e rasas está associado a interesses políticos-eleitoreiros? Eleições a vista, oposição visando ao poder, situação querendo mais quatro anos, interesses e vontades confundindo-se e misturando-se; revelações escandalosas, propaganda legítima, ordenações de fatos, tudo, no final, para ajudar ao eleitor fazer a sua escolha. Se é certa, só o tempo dirá.

6.8.08

O Guaxinim no Éden

Guaxinim passou por aqui. Era um rato do tamanho de um cachorro. Era esperto feito os felinos. Agora, está morto. Extinto. Só existia um exemplar desde algumas décadas. Dizem que consegue viver mais que um cágado. Nossa! Foi como um sorrateiro; um forasteiro sem pai e sem mãe. Eis que surge a lenda urbana mais silvícola do que curupira; mais urbana do que homem-do-saco - Ele é o Guaxinim-Sorrateiro.
Uns vão jurar que viram. Outros afirmarem que nunca existiu. Porém, quem viu,viu; quem não teve a sorte, ficará com um eterno vazio de substância vital. As estórias são inúmeras acerca de um animal grotescamente garboso. Único. Dava cambalhota para trás, fazia enes peripécias, grunhia feito gente e até pensava! Pensava e pedia votos com a pata apontada na direção da assembléia. Era honesto nas suas mentiras. Roubava escondido, mas não fazia questão de eliminar as evidências, devido à impunidade das lendas. Quem iria desconfiar de um Guaxinim? Bizarramente elegante. Andava a passos curtos para ser discreto e com mãos abertas para apertarem as dos amigos - Sempre em campanha eleitoral.
Guaxinim era um só. Era o exemplo no grupo perdido na inocência da ignorância. Ganhava todos os pleitos. Maravilha, dizia ele! Quanto menos, melhor. Quanto mais luz, mais sombras. Sabia o que dizia. Desejava a manuteção do curral humano sob a égide da força dos contrastes; para um ganhar, o outro deve perder. Darwinismo social era a sua doutrina. E ele reinava, sozinho, sorrateiramente.
Agora, depois de morto e extinta a espécie, a lenda torna-se um mito. Imponente. Todos querem a sua lei. Todos querem o seu comando, com a humanidade vivendo em encontros e desencontros, numa falta total de sintonia com o mundo mais justo, mais digno e mais humano - a crença do invisível.

Um novo tempo....


Tendo em vista a diversidade de temas abordados em NOSSO BLOG... Isso mesmo ele ainda é nosso, mesmo que a figurinha mais presente nesse folhetim tenha sido o ilustríssimo Wilen que tem abordado com uma maestria ímpar os mais diversos temas.
Partindo disso achei por bem me ater àqueles temas que transitam entre o mito e a realidade e que optaram por denominar cultura popular.
Para dar inicio a essa nossa nova fase, adentrando por esse mundo outrora pouco falado e discutido nesse canal, iremos conversar, discutir e esclarecer sobre um tema que há muito vem chamando a atenção de muitos dos amigos leitores, conhecidos, amigos, colegas, familiares e tantos outros desta terra ou mesmo de terras alem mar.
Mas qual seria o tal tema, a dar início a essa nova fase? Ninguém ou nada? Mais ou menos que ele:

O Guaxinim Sorrateiro.


Para iniciarmos a sessão queremos interagir com nossos internautas (como diria qualquer locutores da Globo) e ver o que pensam sobre o tema. Para poder ajudá-los a ao menos vislumbrar parte do DOGMA que gira em torno do tal guaxinim, vamos discorrer um pouco sobre o mesmo.

A história do Guaxinim Sorrateiro nos remete aos primórdios da humanidade e vem resistindo aos intemperismos da vida, sendo transmitida de geração a geração. Essa cultura milenar tem sofrido adaptações, modificações mas mantendo sua essência, suas peculiaridades e principalmente sua EFICÁCIA... Dessa pequena descrição nos surgem inúmeras duvidas dentre as quais: o Guaxinim Sorrateiro - é um mito? Uma lenda urbana?
Eu já fui um Guaxinim? Esse é o novo brinquedo da Grow? Nossa, além de Guaxinim é sorrateiro??? ou apenas um estilo de vida...?

A partir do exposto, esperamos contribuições pra desvendar mais esse mistério que envolve os seres humanos

Guaxinim sorrateiro way's of life...?(to be continue...)


4.8.08

Tão longe de chegar e nem perto de algum lugar

Noite fria e sem qualquer detalhe especial. Chegada a um dos mais importante hospitais de emergência do Rio de Janeiro, onde são atendidos muitos daqueles que não podem ter outra opção. Saúde pública e de qualidade, eqüânime e universal a todos os cidadãos brasileiros, não passa de uma tão gelada madrugada de inverno. É fria. É distante dos ideais aspirativos constitucionais.
Logo na entrada, uma mudança: instalações novas, paredes pintadas e um esboço de organização. Que maravilha! A população agradece tanta dedicação e apoio às mais necessitados. De um lado, os famigerados carentes de serviços públicos; do outro, um exército de estudantes pronto para iniciarem a luta por experiência e interesses individuais e nada mais que escape do diâmetro da cicatriz umbilical. Os servidores públicos, empossados com dever e com sonhos, acordam cedo em suas agradáveis casas no seio familiar. Afinal, sonhar só se for dormindo embaixo de um quentinho edredrom. Enfim, um encontro de filhos órfãos de pais solteiros.
O que poderia ser diferente? Qual seria a melhor alternativa? Há muitas outras perguntas e propostas para tentar solucionar essa dificuldade de gerir questões de âmbito público e almejos pessoais. No que concerne a educação continuada de novos profissionais, a solução deverá passar pela séria competência de suas escolas de Ensino Superior junto ao Ministério da Educação. Forma-se na escola. Já os interesses concernentes à prestação de serviço, estará no compromisso tanto engajado quanto motivado daqueles que têm a imcumbência de zelar pelo bom funcionamento da máquina administrativa, que possui mecanismos logicamente engendrados. Como num veículo, em que todos os componentes ali presentes têm a sua função determinada, que, quando motivada, pertence adequadamente ao seu universo dinâmico natural. Cada membro ou instância deve sempre ser lembrados e tecnicamente geridos para garantir o dinamismo natural - paciente, atendimento, recuperação, pesquisa e arquivo.
Nunca se deve esquecer do simples, nem fazer dele o único caminho; no entanto, sempre ter em mente as finalidades do bem político e público alinhadas a um príncipio coerente de realização. Esse relato deveria ser um conto, singularíssimo em detalhes românticos, mas acabou o sentido fazendo-se crítico e a emoção entorpecida pelo frio da madrugada; em uma ferrari puxada por cavalos, longe de chegar a algum lugar perdido neste sonho.

29.7.08

pedras nos Telhados

A poucos meses das eleições, muito ainda se está longe do pleno exercício da democracia como um dia já sonhara alguém. Uns pensam que é pela afinidade; outros pela aparência; há ainda aqueles que fazem pela gratidão. E a máquina de perpetuar a miséria e essa, a ignorância, continua a funcionar.
O país de dimensões continentais possui 26 estados mais o distrito federal. Coerentemente, possui 27 partidos registrados no TSE. Tudo certo. Não! A idéia de dividir é antiga; remonta a tempos idos com finalidade de melhor dominar o oponente e garantir o intento. São bastantes nomes, denominações diferentes e outras nem tanto. Uns até se dividem, mas mantêm fortes alianças, quiça familiares. Dizia-se que cunhado não é parente; no entanto, netos são melhores que filhos e genros perfeitos. Tem-se de tudo. Pizza, Pitta, feudos, Sarney e ACM. Jardim de infância, garotinhos, bispos, castor, babu e francos. Esses são partes de um todo de conhecidos. E os notáveis anônimos? Vice-reis, vice-presidentes, vereadores (servem pra quê?), deputados e senadores não sei por quê?
Por isso, a partir de agora, conclamo as pedras em seus sonhos, para começarem um projeto: aprendendo e vivendo em um mundo melhor. Vamos pôr as informações daqueles que almejam representar os nossos anseios. Telhados do meu país, foi um prazer!
http://www3.tse.gov.br/sadEleicaoDivulgaCand2008/comuns/layout/framesetPrincipal.jsp?siglaUFSelecionada=RJ

Pedras não falam porque sonham

Numa quinta -feira, 27 de agosto de 1998, no Jornal O Globo, um sonho é contado. Sai do segredo de salas frias dos laboratórios para o mundo colorido e sentido aqui de fora. Um trem voador! Era a ânsia de um pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro em busca de melhores condições. Passados dez anos, eis a realidade:
O trem pode voar!
Ainda há pouco pude lembrar aquele menino do interior do Brasil quase colonial, que tivera também um sonho: " o homem pode voar". E de tantos dias e noites, sol e lua, Santos Dumont pôde levar o seu corpo além das nuvens, do espaço. O homem vive. Vive de sonhar. E quem disse que quero acordar?

25.7.08

“Se pensarmos que as pessoas buscam a felicidade ou esperam que em si mesmas recaia tanta alegria quanto se pode imaginar existir, haverá coisa mais brega e cafona? Hoje valorizamos a liberdade e a integridade da privacidade, mas, quase todos, em alguma instância da vida, já retomaram primitivos conceitos de” metades de laranjas “e” almas gêmeas “. O belo está em, acima de tudo, procurarmos em nós mesmos a felicidade e nisso consiste a maior cafonice moderna. O belo e o cafona andam de mãos dadas porque o que se torna belo passa pelos mais entregues momentos de cafonice. Ninguém aparece do nada com plaquinhas dizendo: 'Pessoa sem uso'. Todos usados e bem reciclados, seguimos o caminho da vida com desusos sem gasto ou com algum que faz de nós um pouco mais ou menos interessantes aos olhos dos pares e parceiros que buscamos. Difícil uma história e, principalmente, uma história de amor sem o brega da entrega, dos sussurros melosos e palavras encantadas. Já dizia o poeta que "Todas as cartas de amor são ridículas..." São... por isso são de amor. Nelas perdemos os escrúpulos e as eiras e beiras que nos mantêm seres de força aparente e que, de repente, se tornam meras partes do todo do amor. Esta última frase, o cafona em si? E há na entrega algo mais belo que deixar que seu coração seja por outro acompanhado? Se você acredita que houve muito uso do seu, não se perturbe. Há sempre alguém, como você, que não é zero quilômetro, mas está em bom estado de conservação. O belo pode ser o encontro. O cafona, a beleza dele." --

Ricardo Sant'Anna de Oliveira
Mestrando - Instituto de Bioquímica Médica Universidade Federal do Rio de Janeiro

Nem tudo é o que parece

O "belo" e o "cafona" se relacionam? Por quê?

Começar pelas definições referenciais parece-me bastante adequado; porém, sem analisar as concepções antropólogicas tornar-se-á insuficiente, uma vez que a visão do homem, a disponibilidade das coisas e sua conjuntura diante delas fazem parte, de forma perene, da construção de entendimento. É melhor seguir um outro modelo de resposta, pois esse é demais denso.
Segundo o dicionário enciclopédico Coimbra de Augusto Miranda, “belo” é um adjetivo pertencente ao campo semântico de formoso ou de gentil; já “cafona”, vai desde indivíduo desajeitado, com registro de expressões mais antigas como labrego, passando por inculto até chegar ao grosseiro. Circularmente definidos – conceitos à base de sinonímia.
Passeia-se pelo tempo das Eras e se encontram muitas das tentativas de conceituar os termos e de compreender a sua significância para o ego de cada um. Notáveis pensadores arriscaram esse entrave: Kant (Das Schöne), Platão (kalos em o Hípias Maior), Sócrates em diálogo com Agatão e muitos outros anônimos esmeraram-se para exprimir o que vêem de belo com os seus olhos. E, numa rápida reflexão, pergunta-se: E os cachorros? Ou gatos? Entendem o belo e o cafona?
Beleza e nem seu contraponto restringem-se à humanidade. Basta fitarmos qualquer vivente ao lado, para perceber que, de uma forma ou de outra, eles buscam, escolhem. Por condicionamento? Por acaso? Não se sabe; no entanto, entre tantas opções, nem tudo agrada aos olhos. Uns atraem. Outros repelem. Natural.
Para alguns, a beleza é resultado de emoções, de sentimentos pessoais nascidos ou adquiridos durante a existência; há aqueles que tentam exprimir a sua significância segundo a metodologia cientíifca. Recorrem-se à forma geométrica, à simetria, à medidas precisas de versos ou rimas, à lógica e aos raciocínios cognitivos de indução, dedução ou dialética. Apelam-se até a ritos e a comportamentos sociais e religiosos de vida passada; uso de entorpecentes ou aceitação passiva dos mandamentos divinos. Cada ponto tem a sua vista. Cada lugar, seu ponto-de-vista. Nada é igual. Nem a tangente passa tão perto como se supunha, pois ainda tem a assíndota dos fatos e das versões. Um círculo é uma elipse de excentricidade zero; a reta pode ser um círculo de raio infinito. Que tal o feio belamente cafona; ou o bonito cafonamente diferente? Nem mesmo a finitude da variabilidade das quatro letrinhas da vida é capaz ainda de enrijecer a percepção dos gostos pessoais. O que é bonito para mim, poderá não ser para você; o que é cafona, nem sempre vai ser.

20.7.08

Não deixe de viver para sonhar

Bom dia, Pedras!

Há pouco acordei. Havia uma sombra e uma luz. Tudo era assim. De repente, a sombra dominou o cenário como a água percola o solo; visto que a menor resistência encontrava-se no mundo subterrâneo.

Uma confissão: uma senhora, mãe de duas filhas - uma de nove e outra de sete anos - parada, numa calçada, pedia carona. De vida fácil, como dizem. Tinha apenas um propósito em mente - queria usar "crack". Água percolando saídas ainda mais fundas. Canibalismo eburnificado.

Que mundo é esse! Mãe, drogada e prostituída. Ser santificado e profano ao mesmo tempo. Quando o fraco vê a saída, entrega-se; se é forte, procura a melhor. Toda droga vem para solucionar de maneira simples os problemas; vem aumentar o moral; vem pôr no status quo almejado; vem libertar os sentidos e os sentimentos mais recônditos, a fim de que, pela evasão da realidade, possa viver como num sonho.

E para todos os sonhos; um dia, acabam. Para viver, viva; caso o contrário, boa noite!