25.7.08

Nem tudo é o que parece

O "belo" e o "cafona" se relacionam? Por quê?

Começar pelas definições referenciais parece-me bastante adequado; porém, sem analisar as concepções antropólogicas tornar-se-á insuficiente, uma vez que a visão do homem, a disponibilidade das coisas e sua conjuntura diante delas fazem parte, de forma perene, da construção de entendimento. É melhor seguir um outro modelo de resposta, pois esse é demais denso.
Segundo o dicionário enciclopédico Coimbra de Augusto Miranda, “belo” é um adjetivo pertencente ao campo semântico de formoso ou de gentil; já “cafona”, vai desde indivíduo desajeitado, com registro de expressões mais antigas como labrego, passando por inculto até chegar ao grosseiro. Circularmente definidos – conceitos à base de sinonímia.
Passeia-se pelo tempo das Eras e se encontram muitas das tentativas de conceituar os termos e de compreender a sua significância para o ego de cada um. Notáveis pensadores arriscaram esse entrave: Kant (Das Schöne), Platão (kalos em o Hípias Maior), Sócrates em diálogo com Agatão e muitos outros anônimos esmeraram-se para exprimir o que vêem de belo com os seus olhos. E, numa rápida reflexão, pergunta-se: E os cachorros? Ou gatos? Entendem o belo e o cafona?
Beleza e nem seu contraponto restringem-se à humanidade. Basta fitarmos qualquer vivente ao lado, para perceber que, de uma forma ou de outra, eles buscam, escolhem. Por condicionamento? Por acaso? Não se sabe; no entanto, entre tantas opções, nem tudo agrada aos olhos. Uns atraem. Outros repelem. Natural.
Para alguns, a beleza é resultado de emoções, de sentimentos pessoais nascidos ou adquiridos durante a existência; há aqueles que tentam exprimir a sua significância segundo a metodologia cientíifca. Recorrem-se à forma geométrica, à simetria, à medidas precisas de versos ou rimas, à lógica e aos raciocínios cognitivos de indução, dedução ou dialética. Apelam-se até a ritos e a comportamentos sociais e religiosos de vida passada; uso de entorpecentes ou aceitação passiva dos mandamentos divinos. Cada ponto tem a sua vista. Cada lugar, seu ponto-de-vista. Nada é igual. Nem a tangente passa tão perto como se supunha, pois ainda tem a assíndota dos fatos e das versões. Um círculo é uma elipse de excentricidade zero; a reta pode ser um círculo de raio infinito. Que tal o feio belamente cafona; ou o bonito cafonamente diferente? Nem mesmo a finitude da variabilidade das quatro letrinhas da vida é capaz ainda de enrijecer a percepção dos gostos pessoais. O que é bonito para mim, poderá não ser para você; o que é cafona, nem sempre vai ser.

Nenhum comentário: